Cabo Verde é considerado por muitos um dos bons exemplos da democracia em África, mas analistas nacionais entendem que é necessário melhorar o exercício prático dessa vivência.
O arquipélago, que proclamou a independência nacional em 1975, rompeu com o regime de partido único, em 1991, e desde então realiza regularmente eleições que resultam em transição pacífica de poder.
No entanto, alguns analistas dizem que nota-se que falta maior cultura no exercício prático da democracia, factor que ainda inibe as pessoas de se exprimirem livremente, dado o receio de represálias por parte dos poderes públicos, uma vez que há uma forte dependência do Estado.
Para mudar a situação, defendem uma maior aposta na formação cívica dos cidadãos para que possam agir sem qualquer tipo de medo.
Para o antigo presidente da Assembleia Nacional, António Espírito Santos, não são mais importantes os elogios dos outros, mas sim o que deve ser feito para “melhorarmos as nossas acções”.
O também ex-Provedor de Justiça considera que se deve fazer um pacto no sentido de haver maior clareza e relação entre os diferentes órgãos de soberania e necessariamente com o povo.
Miséria
Na mesma linha, o jornalista José Vicente Lopes afirma que o arquipélago deve ambicionar sempre mais, daí a necessidade de reforço de alguns itens, como a justiça, comunicação social e condições socioeconómicas das famílias.
Para Lopes, “a democracia não sobrevive num contexto de miséria absoluta (…) uma população na miséria, sem emprego e com fome, é óbvio que a pouca energia que lhe resta não vai dedicá-la a defender a democracia formal”.
Mesmo assim, Lopes considera que facto de os cidadãos, de forma regular, terem o privilégio escolher os dirigentes nacionais constitui um “ganho da democracia no arquipélago”, que ninguém pode desvalorizar.