O secretário-geral da Cruz Vermelha Internacional descreveu as difíceis condições em que alguns dos sobreviventes do ciclone Idai estão a viver em Moçambique e apelou a um reforço monetário da ajuda para os 30 milhões de francos suíços (26,7 milhões de euros) para ajudar 200 mil pessoas em necessidade antes que seja tarde de mais.
“As acessibilidades de circulação e de abrigo não são boas. Algumas são mesmo horríveis. Um dos locais que visitei era uma escola onde estavam três mil pessoas numa escola com 15 salas, num local já de si meio inundado e onde só existem seis casas de banho para toda aquela gente. Por isso, não estou a exagerar quando digo que estamos sentados numa bomba relógio de água, saneamento e higiene”, afirmou Elhadj As Sy.
O secretário-geral da Cruz Vermelha sublinhou a vulnerabilidade dfe muitas das pessoas afectadas pelo Idai. “São crianças, raparigas e mulheres muito vulneráveis. Se não fizermos nada, não podemos ficar admirados e arrependidos depois de alguma coisa acontecer”, avisou.
A Cruz Vermelha internacional tem vindo a acelerar os esforços de ajuda em Moçambique para tentar evitar o surto de doenças. Uma Unidade de Resposta a Emergências chegou esta segunda-feira a Moçambique para prestar assistência diria a 20 mil pessoas. Dois hospitais de campanha vão ser instalados a seguir.
A cólera, contudo, já parece estar a fazer vítimas. O presidente do município da Beira afirmou à Lusa que há já várias mortes registadas com sintomas da doença.
“Se numa unidade sanitária há seis ou sete mortos nas mesmas circunstâncias de diarreia, é um indicativo claro de que a cólera está aí à porta”, avisou Daviz Simango, ao descrever os casos que conhece.
Com a região inundada e sem saneamento básico, a cólera passa para a água e comida, criando-se um ambiente propício à sua propagação.
Depois do pesadelo do ciclone, Daviz Simango teme o pesadelo de um surto de doenças.
Em Bruxelas, entretanto, a chefe de diplomacia europeia abordou com o primeiro-ministro português a “tragédia terrível” sofrida por Moçambique. Federica Mogherini garantiu que a União Europeia (UE) vai estar “totalmente mobilizada” para ajudar o país.
“Moçambique tem de saber que a UE e eu pessoalmente, nós pessoalmente, estaremos totalmente mobilizados para os acompanhar passo a passo e para ajudar o país a recuperar desta tragédia terrível, terrível (…) Estamos lá para os apoiar com toda a nossa energia e com todos os nossos recursos, também de uma forma coordenada com os Estados-membros. E quero agradecer a Portugal pelo que já tem feito”, declarou.
Mogherini prestava declarações à imprensa portuguesa, acompanhada do primeiro-ministro António Costa, depois de um encontro entre ambos à margem da reunião do Partido Socialista Europeu, a anteceder o Conselho Europeu que teve início esta segunda-feira em Bruxelas.
Em Portugal, a milhares de quilómetros da tragédia há também quem já trabalhe pelas vítimas moçambicanas do ciclone Idai. A cantora Selma Uamusse, moçambicana radicada em Portugal, teve a ideia de promover um concerto solidário e conta com a ajuda da RTP para o concretizar, a dois de Abril, em Lisboa.
“Mão dada a Moçambique” vai contar com a participação de mais de 50 artistas, nacionais e internacionais, incluindo Ana Moura, Dino D’Santiago, Rita Redshoes, Sara Tavares e The Legendary Tigerman.
O concerto vai decorrer no Capitólio, com bilhetes a 20 euros e a receita a reverter totalmente para oito organizações humanitárias com operações de ajuda a Moçambique: a AMI – Fundação de Assistência Médica Internacional; Cáritas Portuguesa; Cruz Vermelha Portuguesa; Médicos Sem Fronteiras; Associação HELPO; Fundação Girl Move; Iris Relief; e a ACRAS – associação cristã de ré-inserção e apoio social.
Quem no puder estar presente no capitólio, mas quer participar na ajuda pode fazê-lo através da compra de um bilhete-donativo de 20 ou 30 euros.
“Obter o maior valor de receitas possível, para ajudar o máximo de vítimas do Idai é o objectivo de artistas e parceiros que se unem neste evento, e que desde já agradecem todos os contributos financeiros que serão dados, do mais modesto, ao mais generoso”, lê-se no comunicado do evento que a organização fez chegar à Euronews.