A oposição em Moçambique é criticada por não ter uma agenda política para enfrentar as próximas eleições. MDM lembra que as falhas no recenseamento foram desvendadas pela oposição. RENAMO atira as culpas para a FRELIMO.
Diversos círculos da crítica em Moçambique acusam a oposição de falta de agenda política e de estar desorganizada para enfrentar os próximos pleitos eleitorais e ser alternativa à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder.
O diretor executivo do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), Sérgio Chichava, afirma que a oposição tem feito pouco para ganhar mais espaço político no país. Mas também lembra a forma como a FRELIMO tem tratado os opositores.
“A oposição pode-se criticar, tem as suas limitações, tem a sua culpa, mas não tenhamos amnésia: lembremo-nos das contestações, das mortes que têm acontecido em virtude de a oposição reivindicar que esses processos sejam genuínos”, sublinha.
O académico lembra que quando a oposição reivindica irregularidades, sobretudo nos pleitos eleitorais, a FRELIMO usa a força do Estado para intimidar, perseguir e matar os opositores.
“Muitos da oposição são mortos, são presos por reivindicar que esses processos tenham uma certa transparência, são silenciados e nós sabemos disso. Não é porque não veem, não é porque não reclamam, mas os que dirigem este país têm a força e deviam em primeiro lugar dar passos significativos para que tenhamos processos mais justos, mais transparentes”, diz.
RENAMO diz que culpa é da FRELIMO
António Muchanga, deputado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, concorda que há desorganização, mas atira as culpas à FRELIMO.
E diz que há muita gente que foi obrigada a resignar-se. “Nós tínhamos, por exemplo, um grande político chamado Isamel Mussá, porque fugiu de se opor ao regime. Temos o próprio professor doutor Ngoenha, não é aquele Ngoenha que conhecemos no passado, no tempo de [Joaquim] Chissano”, lembra.
Muchanga diz ainda que o partido no poder usa outra tática para desorganizar a oposição: o “golpe de fome”.
“Há mudança de interesses em função de grau de pobreza que apoquenta os bolsos das pessoas e a procura de estarem próximos de quem está no poder. As pessoas metem nas cabeças que só podem estar bem quando estão do lado da FRELIMO e eu digo que não, por isso eu não recuo, não vacilo e continuo onde estou”, salienta.
Ações da oposição
O delegado político do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) na cidade de Maputo, Isamel Nhancucue, não concorda que a oposição esteja desorganizada e sem agenda política. Diz que a oposição tem feito o seu papel e que a pressão é notória no parlamento.
“Quem está a fiscalizar o processo eleitoral agora, por exemplo, e a desvendar todas as atrocidades que estão a acontecer, as fraudes a nível do recenseamento, é a oposição e não está lá ninguém da sociedade civil a desvendar isso”, argumenta.
Constatações que surgem numa altura em que Moçambique se prepara para as eleições autárquicas de 11 de outubro deste ano e gerais de 2024.
Por Romeu da Silva