A partir de segunda-feira (27.03), não pode haver crianças a mendigar nas ruas da Guiné-Bissau, ordenou o Presidente Sissoco Embaló, que considera vergonhoso mandar os talibés pedir esmolas. “Isso não é Islão”, diz.
Há anos que o fenómeno das crianças talibés – alunos do ensino corânico – em situação de mendicidade nas ruas da Guiné-Bissau é preocupante. E desencadeou várias iniciativas das organizações que trabalham pela proteção dos menores para o combate dessa prática.
Várias crianças guineenses retiradas das ruas do Senegal foram entregues aos seus familiares, mas no próprio país, em particular na capital Bissau, a situação parece agravar-se, o que levou a uma tomada de posição do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, na passada quarta-feira.
No ato da inauguração de um complexo escolar, no leste da Guiné-Bissau, o chefe de Estado guineense dera o prazo de uma semana para a retiradas das crianças talibés das ruas do país.
“Ponham os vossos filhos na escola e deixem de mandar as crianças para pedir, isso não é Islão. Ministro do Interior, tem uma semana para acabar com a mendicidade das crianças nas ruas. Quem mandar o seu filho para as ruas, o seu mestre corânico será detido”, avisou.
Mas esta segunda-feira (20.03), depois de uma reunião de mais de quatro horas, no Ministério do Interior, entre organizações defensoras dos direitos das crianças, mestres corânicos e autoridades, ficou acordado que os talibés serão retirados das ruas do país, a partir de 27 de março.
Mais de 700 crianças talibés em Bissau
Segundo os dados da Associação Guineense de Luta Contra Migração Irregular, Tráfico de Seres Humanos e Proteção das Crianças (AGLUCOMI-TSH), há 22 escolas corânicas em Bissau onde foram registadas 721 crianças talibés, entre os 3 e os 18 anos de idade. Duzentas delas vão para as ruas, diariamente, para pedir dinheiro – e entre elas, só 15% são órfãs.
Suleimane Embaló, presidente da organização, disse que a Guiné-Bissau é um dos Estados que assinaram e ratificaram as convenções internacionais a favor das crianças, mas esses dispositivos não são cumpridos no país.
Embaló deu exemplo de um caso recente que envolveu um mestre corânico, na capital guineense: “Um mestre [corânico] foi apanhado em situação a normal, foi detido 45 dias e depois foi solto sem que a justiça fosse feita. Os mestres diziam que não tinham condições para para assegurar as crianças e neste sentido, negociamos com eles para retirarem crianças das ruas”.
No fim do dia, o talibé que não apresentar ao mestre corânico uma determinada soma em dinheiro, é sujeito a violência física, assédio moral e até ao abandono, aponta ainda Suleimane Embaló.”
“Se não têm sustento, fechem as escolas”
Para o presidente do Parlamento Nacional Infantil (PNI), Leoni Fernando Dias, o argumento dos mestres corânicos não convence. “Muitas vezes, os líderes corânicos dizem que enviam crianças para as ruas do país porque não têm sustento para elas. Então, se não têm sustento, convém fecharem as suas escolas, porque eu não posso ter uma escola corânica e depois não ter sustento para as crianças”, argumenta.
Segundo o presidente da Associação Guineense de Luta Contra Migração Irregular, Tráfico de Seres Humanos e Proteção das Crianças, o fenómeno da criança talibé em mendicidade ainda persiste, porque há uma manipulação da opinião pública.
“As pessoas estão a tentar confundir a opinião pública, porque a mendicidade não faz parte do islão e são coisas que estão a tentar inventar. A mendicidade é o fator da pobreza e não tem nada a ver com a religião”, conlcui Suleimane Embaló.
Por Iancuba Dansó