Com o número de casos de infecção pela Covid-19 a ultrapassar globalmente os 10,1 milhões, com 502 mil mortes a ela associadas, especialmente nos EUA, a maior economia planetária, onde já foram diagnosticados 2,55 milhões de casos positivos e mais de 125 mortos, e com perspectivas de forte crescimento, entre as vítimas do novo coronavírus está, outra vez, o mercado mundial de petróleo e as economias que mais dependem da exportação da matéria-prima.
Se os EUA, devido ao laxismo estratégico da Administração Trump, que optou desde o início por desvalorizar a doença, são já uma situação sobejamente conhecida, a Índia, uma das mais importantes economias do mundo, com os seus mais de 1,2 mil milhões de habitantes, começa a surgir no radar das grandes inquietações devido ao crescimento galopante da Covid-19 no segundo gigante asiático, que já conta com mais de meio milhão de casos.
A par dos EUA, o nº 1 mundial em casos, e da Índia, o 4º, e com o Brasil e a Rússia, em 2º e 3º lugares respectivamente na tabela de medição global ao minuto da Universidade John Hopkins, sensíveis como são às oscilações das grandes economias, os mercados petrolíferos tinham de reagir e, depois de mais de um mês a recuperar das enormes perdas do 1º trimestre devido à crise pandémica, estão, nas últimas duas semanas a mostrar que as notícias da retoma global podem, afinal, ter sido ligeiramente exageradas.
Esta segunda-feira mostra com precisão que a Covid-19 está de novo na linha da frente dos entraves à continuada recuperação dos mercados do crude, com o Brent, em Londres, que determina o valor médio das exportações angolanas, a cair cerca de 2%, para pouco mais de 40 USD por barril, embora tenha começado a mostrar uma ligeira recuperação e a posicionar-se nos 40,32 USD – contratos de Agosto – por volta das 10:00, menos 1,51% que no fecho da sessão de sexta-feira.
Enquanto isso, no WTI de Nova Iorque, nas vendas para Julho, o barril começou a sessão de hoje igualmente a perder quase 2%, mas, à mesma hora, estava já a reduzir as perdas para 1,33 %, estacionando nos 37,93 USD por barril.
As agências e os sites especializados nos mercados petrolíferos são unanimes a apontar o refluxo da pandemia da Covid-19 como a grande causa para este mau arranque da semana da matéria-prima, especialmente depois de se perceber que o elevado crescimento no número de casos está a obrigar alguns países a restabelecerem as medidas mais restritivas de mobilidade para conter, de novo, a expansão do novo coronavírus, que se tem mostrado mais resiliente que aquilo que eram as perspectivas ainda há menos de um mês.
Por detrás de tudo isto surge a diminuição da procura de crude em bruto pelas refinarias porque a uma menor mobilidade nas economias mais influentes, como a dos EUA, Índia, Reino Unido ou Alemanha, e com a China a registar um surto complicado em Pequim, impondo, outra vez, severos confinamentos em partes da capital chinesa, o consumo de combustíveis decresce de imediato, para além de as companhias aéreas manterem ainda a maior parte dos seus aviões em terra e os portos marítimos estarem longe da normalidade pré-pandémica.
No entanto, no computo geral, o mês de Junho, que está a chegar ao fim, é ainda um mês de ganhos relativamente às enormes perdas entre Janeiro e meados de Abril, sendo mesmo o terceiro mês no verde, embora em declínio acentuada nessa marcha de recuperação.
Julho adivinha-se, porém, como um mês de grandes mudanças porque vão ocorrer importantes reuniões, especialmente no âmbito dos planos de cortes à produção dos países da OPEP+, organização que agrega os Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e mais 10 não-alinhados liderados pela Rússia, que em Abril decidiram, nos meses de Maio e Junho cortar 9,7 milhões de barris por dia (mbpd), estendendo depois essa decisão para Julho.
Com este Outlook claramente negativo, os analistas admitem já que a OPEP+, onde a Rússia e a Arábia Saudita são quem manda e decide, de facto, terá de prolongar os cortes, provavelmente para Setembro, estando em cima da mesa a possibilidade de aumentar o corte como forma de voltar a ganhar tracção no controlo dos mercados, que podem entrar de novo numa espiral regressiva se o mundo voltar ao confinamento para desvitalizar de novo a pandemia da Covid-19.
Para além dos casos mais graves, como são os EUA, o Brasil, a Índia e o Reino Unido, também os bem-comportados Nova Zelândia, Austrália e Coreia do Sul estão a observar novos surtos e a obrigar as autoridades nacionais a impor medidas restritivas, lançando um sinal de pessimismo para o resto do mundo.
O recrudescer no número de casos na pandemia, que, recorde-se, gerou, desde que foi detectada, a mais grave crise económica global desde o crash de 1929, nos EUA, não é o único factor de entrave a ultrapassar o problema.
Também se mantém em cima da mesa o aumento dos stocks nas grandes economias, como a dos EUA, que, semanalmente e a um ritmo crescente, tem visto a sua capacidade de armazenamento encolher, bem como a diminuição das margens de lucro das refinarias e ainda a retoma da produção nos EUA, fundamentalmente na indústria do fracking, ou petróleo de xisto, que foi afectada fortemente devido ao seu elevado breakeven, estão a contribuir para o enfraquecimento do barril nos mercados.
ExxonMobil inicia vaga de despedimento
Um dos sinais mais evidentes sobre a gravidade da situação no sector do petróleo é o início do desinvestimento em algumas das maiores multinacionais, desde logo a BP, que está a preparar um forte desinvestimento em algumas áreas menos rentáveis, como a das areias betuminosas do Canadá, ou o das águas ultraprofundas de Angola, e agora a ExxonMobil, a major nº1 dos EUA, que está a iniciar um processo alargado de despedimentos, segundo avança a Bloomberg.
A maior companhia petrolífera norte-americana deverá, nos próximos dias, anunciar um despedimento em massa de entre 5 e 10% da sua força laboral nos EUA, essencialmente por causa da crise gerada no rasto da pandemia da Covid-19, nomeadamente na redução das margens de lucro das grandes companhias.