O recente caso positivo da Covid-19 na cidade do Lobito (Benguela) levou ao adiamento de vários projectos da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC) que dariam algum impulso ao movimento artístico na província, disse hoje, quinta-feira, o Coordenador da Comissão de Gestão daquela instituição, Jaime Neves da Costa “Tiviné”.
Entre as acções que estavam programadas para estes dias, referiu os “lives” e outros shows de pouca dimensão, devido as restrições impostas pela pandemia, como o reduzido número de espectadores para evitar acumulação de gente.
Acrescentou que as acções para a construção de um estúdio de gravação, financiado pelo Governo Provincial para apoiar os artistas locais, já estariam em curso, se não fosse a suspeita do surgimento de novos casos.
“Este projecto contará com equipamento de som e software bastantes sofisticados e já foram contactados técnicos provenientes de Luanda para fazer a montagem”, garantiu.
Ainda sobre incentivos para tirar os artistas do desemprego causado pela Situação de Calamidade, o coordenador da UNAC em Benguela afirmou que estão seleccionados os primeiros que farão shows nos comboios do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), para animar os passageiros, do Lobito a capital da província e vice-versa, numa primeira fase.
“Tanto os trovadores como actores (teatro) terão de apresentar-se até um máximo de três pessoas, em obediência às regras do distanciamento social”, alertou.
Aproveitou a ocasião para informar que a UNAC fez recentemente uma campanha de sensibilização nalguns bairros periféricos da zona alta do Lobito, onde ainda há gente que não usa máscaras nem lava as mãos com água e sabão, desconhecendo praticamente os perigos derivados da Covid-19.
Quanto aos trabalhos internos, Tiviné afirmou que estão em curso o processo de inscrição de novos membros (já conta com cerca de 50 associados), a reforma para os que têm mais de 35 anos de carreira ou acima de 65 anos de idade, bem como a protecção dos direitos de autor.
Em relação ao movimento artístico, que vai surgindo lentamente na província, Jerry Rocha, tecladista do “Duo Gemas”, entrevistado pela Angop, adiantou que vão aparecendo alguns contratos que, de certa forma, dão para atenuar a situação difícil que a classe vive neste momento.
Segundo o artista, as pessoas sentem saudades da música ao vivo e de dar algumas passadas, limitando-se a mexer a cabeça ou a bater com o pé no chão, acompanhado a cadência da música, devido as medidas de segurança contra a pandemia.
Garante que nos locais onde tem passado, os proprietários têm sido rigorosos no cumprimento das medidas, principalmente a lotação dos espaços e o horário para encerramento dos shows, embora algumas vezes as pessoas peçam para permanecer um pouco mais.
Relativamente às mortes de Waldemar Bastos e Carlos Burity, no intervalo de dois dias, tanto Tiviné como Jerry manifestaram o seu sentimento de pesar, dizendo que a música angolana perdeu dois “grandes ícones” e auguram que o seu legado seja seguido com rigor e respeito pelas novas gerações.
Os dois artistas locais fizeram questão de frisar que já partilharam palcos com Carlos Burity e aprenderam bastante com aquele que foi um exímio intérprete do género angolano “semba”.