Nesta sexta-feira (29) foi apresentado pela OMS um acordo para compartilhamento de tecnologia e informação, proposto pelo governo da Costa Rica, para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos para o tratamento e prevenção da COVID-19.
Anteriormente, o Brasil se mostrava contrário a participar deste esforço internacional, mas agora, ao comunicar ao governo da Costa Rica que irá aderir ao acordo, demonstra mundialmente sua mudança de posição.
A professora de Relações Internacionais do Ibmec-SP, Daniela Alves, em entrevista à Sputnik Brasil, observou que, ainda que o Brasil não tenha aderido inicialmente à plataforma internacional para o desenvolvimento de uma vacina contra a COVID-19, instituições como a Fiocruz “já estavam participando de um ensaio clínico promovido para pesquisar a eficácia de quatro medicamentos para combater este vírus”.
“Independentemente da posição oficial do governo brasileiro, as instituições que atuam na área da saúde não deixaram de participar dos esforços internacionais, mas além disso seria interessante falar também sobre as negociações ativas que o Brasil esteve mantendo e está mantendo dentro da OMS, especialmente para que seja reconhecida a necessidade, neste contexto de pandemia, de que as leis de patente sejam flexibilizadas para garantir o acesso de todos a uma vacina”, destacou.
De acordo com a especialista, o “grande receio é que se uma vacina for produzida por uma empresa privada em um país rico, poderá ocorrer um monopólio sobre o produtor, ou seja, consequentemente haverá um encarecimento para que os governos possam adquirir a vacina para os seus cidadãos”.
“E eu acredito que foi exatamente neste contexto que o Brasil aderiu à proposta da Costa Rica, buscando garantir que o Brasil tenha acesso à tecnologia e possa garantir o acesso para a nossa população de uma vacina que venha a ser desenvolvida com sucesso. Então eu acredito que é uma evolução das próprias negociações e das escolhas que o Brasil vem fazendo dentro desse contexto da questão da vacina e dos medicamentos”, disse.
Daniela Alves comentou que os esforços para conseguir um medicamento para resolver o problema da COVID-19 também implicam em interesses financeiros fortes e que “podem sim ser um grande problema de acesso para a população nos países de renda média, nos países mais pobres também, de conseguir disponibilizar amplamente para sua população uma vacina que venha a ser desenvolvida, por exemplo, por uma empresa privada e em um país rico”.
“O Brasil eu acredito que, analisando essa perspectiva, vem agora tomando caminho e decisões para tentar garantir para que a população tenha esse acesso assim que uma vacina for disponibilizada”, completou.