Líderes juvenis dos partidos da oposição apontam desemprego, suspensão das aulas e até supostos assassinatos como desafios enfrentados pela juventude devido à Covid-19. Acusam ainda o MPLA de “politização” da pandemia.
Em conferência de imprensa esta terça-feira (16.06), os líderes das juventudes partidárias da oposição e o Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) apontaram o desemprego como o principal impacto negativo da Covid-19 no seio dos jovens.
Eduardo Garcia, secretário nacional da Juventude Patriótica de Angola (JPA), diz que o novo coronavírus “está a provocar estragos”. Sem avançar estatísticas, o responsável do braço juvenil da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), descreve: “Desde o despedimento desta juventude das empresas onde estavam a ganhar o seu sustento à retirada do pão da mesa daqueles jovens que, por iniciativa própria, abriram um pequeno negócio.”
Ganhar o pão como taxista
Segundo Agostinho Kamuango, secretário-geral da Juventude Revolucionária de Angola (JURA), braço juvenil da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), muitos destes jovens desempregados encontram no serviço de táxi o seu ganha-pão. Mas as autoridades “não cooperam com essa franja de jovens que, todos os dias, se predispõe a colocar os trabalhadores nos seus locais de serviço”.
“As condições que lhes são impostas para o exercício da sua actividade, desde o trajecto às paragens que distam do perímetro de circulação normal de passageiros, a actuação da polícia de trânsito e dos agentes da fiscalização, muitas vezes à margem da lei, tornam o exercício da actividade de táxi cada vez mais difícil”, avalia.
Soluções para o desemprego
O desemprego e as dificuldades das empresas em tempos de Covid-19 foram dois problemas apresentados por organizações da sociedade civil durante uma reunião com o Presidente da República, no mês passado. João Lourenço anunciou, para breve, a criação de um Conselho de Concertação Económica, composto por juristas, economistas, sociólogos e políticos para tentar responder às dificuldades trazidas pela pandemia.
Eduardo Garcia, da Juventude Patriótica de Angola, aponta já uma solução: “Há aqueles jovens que, por causa desta situação, acabaram por ficar até sem os meios de trabalho. Por via do MAPESS [Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social], se criasse condições de trabalho que dessem meios, porque, às vezes, o jovem não precisa de dinheiro, precisa apenas de meios de trabalho”, sugere.
Impedidos de ajudar
Os líderes das juventudes partidárias denunciam, por outro lado, uma partidarização da luta contra a pandemia por parte do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
“Eles [dirigentes do MPLA] andam dia e noite pelo país inteiro, a coberto de actividades governamentais para promover a imagem do seu partido, enquanto aos cidadãos, aos outros partidos e organizações afins lhes são impostas medidas excessivas”, criticaram os jovens.
A JURA diz que alguns dos seus membros tentaram doar sangue na província do Bié, mas foram impedidos. A Juventude de Renovação Social (JURS), braço juvenil do Partido de Renovação Social (PRS), tentou doar alimentos em Luanda, mas também não terá sido autorizada.
Sem aulas
Outro dos temas falados na conferência de imprensa desta terça-feira foi o reinício das aulas, após meses de paralisação para tentar travar a propagação do novo coronavírus.
Esta semana, os 18 governos provinciais, reunidos com o Executivo central, concluíram que não há condições para que o ano lectivo recomece no próximo mês. Francisco Teixeira, do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) concorda, e critica os que defendem o seu reinício.
“Estamos a falar de escolas públicas que estão há mais de quatro anos sem empregadas de limpeza, escolas que funcionam sem a figura da empregada, escolas que funcionam sem quartos de banho abertos”, disse.
Criminalidade nas Lundas
Por sua vez, Gaspar dos Santos, secretário permanente da juventude afeta ao PRS, partido com forte tradição eleitoral na região diamantífera das Lundas, denuncia a existência de supostos assassinatos de jovens garimpeiros nos municípios de Muxinda, Kuango e Kafunfu – jovens que teriam ido para o garimpo, por falta de sustento.
“Do último levantamento que fiz, há três dias, tínhamos nessa altura quatro vítimas dentro de uma semana”, referiu.
A DW África tentou contactar o governo local e as empresas que operam na zona de exploração diamantífera, sem sucesso.