O medicamento imunomodulador tocilizumabe mostrou sua eficácia na prevenção da “tempestade inflamatória” em pacientes com COVID-19 em estado grave, de acordo com um estudo francês ainda não publicado, cujos primeiros resultados foram divulgados nesta segunda-feira (27).
Este tratamento reduziu “significativamente” a proporção de pacientes que tiveram de ser transferidos para terapia intensiva, ou morreram, em comparação com aqueles que receberam tratamento padrão, disse a Assistência Pública-Hospital de Paris (AP-HP).
Este é o “primeiro estudo comparativo randomizado” que “demonstra um benefício clínico” deste tratamento em pacientes com COVID-19 que sofrem de infecção grave, disseram seus organizadores durante uma colectiva de imprensa virtual.
Esses resultados ainda precisam ser “consolidados” e serão publicados em uma revista científica em algumas semanas. A AP-HP explica que decidiu divulgá-los agora “por razões de saúde pública”, devido ao contexto da crise pandêmica, e comunicá-los às autoridades sanitárias francesas e à Organização Mundial da Saúde (OMS).
O tocilizumabe (Actemra, ou RoActemra), do laboratório Roche, pertence à família de anticorpos monoclonais – anticorpos criados em laboratório, derivados de uma única cepa de linfócitos e concebidos para responder a um alvo específico.
Geralmente usado no tratamento da artrite reumatoide, funciona bloqueando o receptor de uma proteína do sistema imunológico que desempenha um papel importante no processo inflamatório.
Alguns pacientes com o novo coronavírus sofrem um agravamento repentino de sua condição após vários dias, causando desconforto respiratório agudo. Fenômeno que está, provavelmente, ligado a uma reacção imune excessiva do corpo.
Ao todo, 129 pessoas hospitalizadas em 13 hospitais foram incluídas no estudo: pacientes com COVID-19 sofrendo uma pneumonia “de moderada a grave” e que precisaram de assistência com oxigénio.
Esse perfil corresponde a “apenas 5% a 10% dos pacientes infectados” pelo coronavírus, mas estão entre os que correm maior risco de serem submetidos à respiração artificial, ou à morte, disse Xavier Mariette, copesquisador coordenador do estudo, durante a tele-conferência.
Metade dos participantes recebeu uma ou duas injecções de tocilizumabe, além do tratamento padrão (oxigénio, antibióticos e anticoagulantes). A outra metade recebeu apenas tratamento padrão.
Eles foram acompanhados por 14 dias para obter esses resultados intermediários, um acompanhamento que continuará, a fim de confirmar as conclusões.
Nesta fase, os pesquisadores não observaram mais efeitos colaterais indesejáveis nos pacientes que receberam o imunomodulador do que naqueles que receberam o tratamento padrão, ressaltou Mariette.
Outras equipes já relataram resultados encorajadores sobre o tocilizumabe, particularmente no Hospital Foch, mas esses estudos foram “abertos”, sem um grupo de controle randomizado, que não trouxe “o mesmo nível de evidência” e “não permitem definir um padrão de tratamento”, apontaram os pesquisadores da AP-HP.
O custo atual do tocilizumabe é de cerca de 800 euros por injecção, um preço alto, mas muito mais baixo do que o de um dia de hospitalização em uma unidade de terapia intensiva, ressaltaram.
Um medicamento comparável, o sarilumabe (Kevzara), desenvolvido pela Sanofi e Regeneron, também está sendo testado no mesmo programa de ensaios clínicos, chamado CORIMMUNO. Os primeiros resultados devem ser conhecidos “nos próximos dias”, de acordo com Mariette.