Pelo menos 170 civis foram mortos desde outubro nas regiões anglófonas dos Camarões, na sequência de conflitos armados entre separatistas e as Forças Armadas do país, denunciou hoje a organização Human Right Watch (HRW).
“As forças do Governo nas regiões anglófonas dos Camarões mataram um grande número de civis, utilizando a força, e incendiaram centenas de casas nestes últimos seis meses”, acusa a organização de defesa dos direitos humanos, num relatório divulgado hoje.
Segundo o Observador que cita a Lusa, desde outubro, “pelo menos 170 civis foram mortos em mais de 220 incidentes registados nas regiões do Nordeste e do Sudeste dos Camarões”, escreve a HRW, indicando “que o número de civis mortos é provavelmente ainda mais importante”, tendo em conta a intensificação da violência e a dificuldade em recolher informações nestas zonas.
Porém, a HRW não diz explicitamente que as forças governamentais são as responsáveis pela morte da totalidade dos 170 civis.
Numa carta enviada à HRW, o governo afirmou que não reconhece “exaltações” das Forças Armadas descritas no relatório, refere a organização no seu comunicado.
O relatório indica, por outro lado, que “31 membros de forças de segurança foram mortos em operações entre outubro e fevereiro”.
Os separatistas anglófonos do país, de maioria francófona, defendem a criação de um Estado independente nas regiões Nordeste e Sudeste.
No final de 2017, após um ano de protestos, os separatistas pegaram em armas contra Yaoundé, capital do país.
Desde então, aquelas regiões são teatro de violentos conflitos armados.
Os combates travam-se regularmente entre as Forças Armadas, mais reforçadas em número, e os grupos separatistas armados refugiados na floresta equatorial.
“As autoridades camaronesas têm a obrigação de responder (à crise) de forma legal e de proteger os direitos das populações em relação a estes atos de violência”, considera o diretor para a África central da HRW, Lewis Mudge.
“A resposta brutal do Governo em relação a civis é contraproducente e tem o risco de provocar mais violência”, defende.
No relatório, a organização critica igualmente o número de raptos e sequestros nestas regiões.
Os separatistas multiplicam os sequestros de responsáveis, de militares e polícias, bem como de civis para manter a pressão sobre o regime de Yaoundé, mas também para exigir resgates que permitam aos grupos armados financiar-se.
Este conflito, que não para de crescer, já forçou mais de 437.000 pessoas a fugirem das suas casas nas regiões em questão, segundo a ONU.