Angola vai às urnas em agosto de 2022. Mas as eleições avizinham-se num momento em que se intensifica conflito entre o movimento separatista FLEC e as tropas angolanas. Governo nega ataques em Cabinda.
O Governo de Angola nega os ataques em Cabinda, mas é fortemente criticado. Enquanto isso, outros setores da sociedade apelam a um entendimento urgente para que não se assista a um cenário ainda mais difícil durante as eleições de agosto no país.
Agora, depois de um longo silêncio, há notícias de que as “armas se intensificaram” em Cabinda, entre a Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda – FLEC e o Exército angolano. Provas disso são as imagens a circular nas redes sociais de militares e civis mortos, com vestígios de sangue e armas de fogo.
A quatro meses das eleições, a FLEC continua a pedir o boicote às eleições gerais em Angola, previstas para agosto. Quem confirma é o chefe de estado-maior do movimento, Estanislau Boma.
“Cabinda é Cabinda, Angola é Angola”
“Cabinda é Cabinda, Angola é Angola; e não vamos aceitar tratar o problema de Cabinda no contexto angolano”, disse.
“No entanto, a FLEC saúda e encoraja as atividades nacionalistas, que devem continuar até operações, até ao boicote das eleições angolanas em Cabinda”, explicou Boma, que disse que “eleger Angola em Cabinda é eleger a opressão e a colonização do nosso território”.
No mês de Fevereiro, o ministro do Interior, Eugénio César Laborinho, admitiu publicamente a existência de ações militares em Cabinda e reconheceu que a segurança na fronteira com a República do Congo inspira muitos cuidados.
Porém, na última semana, por ocasião da visita de João Lourenço à Cabinda, onde o Presidente manteve uma reunião com o governo local; o governador da província de Cabinda, Marcos Alexandre Nhunga, negou os ataques em Cabinda.
“A província de Cabinda está estável, tranquila. Há livre circulação de pessoas e bens”, disse Nhunga.
“Governador mentiu”
Entretanto, o secretário-geral do movimento da Frente Consensual de Cabinda (FCC), Belchor Lanzi Taty, afirma que o governador mentiu ao Presidente, por não reconhecer os ataques em Cabinda.
“Há ataques em Cabinda e insatisfação dos políticos […]. E não se esqueçam que os que morrem nos ataques no Maiombe são filhos alheios”, disse.
A democracia, o desenvolvimento económico e a reconciliação nacional são os desafios que Angola enfrenta em 2022, a olhar sobretudo para as eleições que se avizinha, onde se deseja um processo mais transparente.
Por isso, vários setores da sociedade, sobretudo o religioso, apelam ao Governo angolano e à FLEC para que cheguem a um entendimento e ponham fim às mortes decorrentes dos ataques no interior da província.
Na última quinta feira (21.04), durante o encontro entre o Bispo de Cabinda e o Presidente João Lourenço, o chefe de Estado aproveitou a ocasião para abordar a situação dos antigos militares da FLEC, ressaltando que o processo não foi bem terminado e que a Paz “deve chegar a todos”.
A solução para a situação de Cabinda passa necessariamente por um diálogo e, por isso, para muitos cabindas, a visita de JLo, seria uma oportunidade – ou solução – para se resolver a situação político-militar no enclave, afirmaram alguns membros de certos movimentos.
Para Alberto Gomes, membro de um dos movimentos, é necessário resolver esta situação, pois há “muito derrame de sangue”, e não se deseja que a situação piore em agosto, o mês das eleições.
“Conhecemos a realidade local”
“O Presidente tem a obrigação aceitar sentar com os cabindas […]. Nós conhecemos a realidade local, e não alguém que vive em Luanda […]. Portanto, já não queremos derrame de sangue”, disse Gomes.
Já o professor António Calanda, acredita que a consolidação da Paz em Cabinda depende somente do Governo angolano, e não tanto dos cabindas.
No passado dia 18 de abril, cinco organizações políticas dirigiram uma carta ao Presidente angolano, João Lourenço, pedindo-lhe que reconheça o direito do povo cabindense à autodeterminação.
As organizações: a Frente Consensual de Cabinda (FCC), Movimento de Reunificação do Povo de Cabinda para a sua Soberania (MRPCS), União dos Cabindeses pela Independência (UCI), Movimento Democrático de Cabinda (MDC) e Os Democratas Liberais de Cabinda (DLC).
As organizações também denunciaram a repressão militar, perseguições, torturas e assassinatos.