Atributos da capital seduzem cidadãos internacionais, que em 2021 representaram 38% do volume investido no segmento residencial. Americanos dominaram.
O investimento de cidadãos estrangeiros na aquisição de imóveis residenciais na Área de Reabilitação Urbana (ARU) de Lisboa, território que exclui apenas o Parque das Nações, Lumiar e Santa Clara, bateu no ano passado todos os recordes. O capital investido atingiu os 923,1 milhões de euros, tendo estes particulares adquirido 1767 casas. O valor médio por operação ultrapassou pela primeira vez a fasquia do meio milhão de euros, fixando-se em 523 mil euros, segundo as estatísticas fornecidas ao DN/Dinheiro Vivo pela Confidencial Imobiliário. São números que traduzem uma dinâmica histórica em todos estes indicadores e fazem esquecer o ano em que deflagrou a pandemia.
O volume de investimento estrangeiro, que pesou 38% no total aplicado em 2021 na aquisição de casas por particulares na ARU de Lisboa, apresentou um crescimento de 21% face ao anterior recorde, atingido em 2019, e um aumento da mesma ordem de grandeza quando comparado com 2020, exercício marcado pelo deflagrar da covid-19. Também no número de imóveis adquiridos se verificou um incremento de 15% face a 2020 e de quase 6% comparando com 2019.
Esta exuberância do mercado imobiliário na capital deve-se a instrumentos como os vistos gold e ao regime de residentes não habituais que “colocaram Lisboa na rota do investimento internacional” e a ajudaram a posicionar-se “como cidade cosmopolita”, reconhecida como “segura e inserida num país da zona euro”, considera Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário. Estes atributos fizeram “com que se tornasse mais atrativa e ganhasse notoriedade internacional”.
Ricardo Guimarães lembra também que o grande impulso para este resultado sucedeu na segunda metade de 2021, devido ao desconfinamento, mas também “à procura relacionada com os vistos gold, cujas regras se viriam a alterar no início deste ano, com fortes restrições na elegibilidade da aquisição de imóveis em Lisboa”. Toda esta dinâmica é evidenciada pelas mais de 80 nacionalidades que compraram casa em Lisboa no ano passado.
EUA em destaque
E, sem sombra de dúvida, Lisboa cativou os norte-americanos, que passaram a ser a principal nacionalidade a investir em habitação na capital. Os dados da Confidencial Imobiliário dão nota que estes cidadãos aplicaram 134 milhões na compra de casas, passando da terceira posição entre os principais investidores em 2020 e da quinta em 2019 para o primeiro lugar do pódio e de forma destacada. É que os franceses, que mantiveram a segunda posição, gastaram um pouco menos, 126,1 milhões. Em terceiro lugar, encontram-se os chineses, com um gasto de 119,7 milhões, a perder assim o lugar de liderança que ocuparam nos últimos dois anos. Já os cidadãos do Reino Unido quase duplicaram o valor de aquisições, respondendo por uma verba de 91,4 milhões, mas mantendo a quarta posição. A fechar o top 5, ficaram os brasileiros, que reduziram em 9% os seus negócios na capital para 67,7 milhões.
Uma das tendências que se destaca no investimento estrangeiro do ano passado é a perda de atratividade do centro histórico de Lisboa. No ranking das cinco freguesias que mais captaram o interesse destes cidadãos só figura a Misericórdia, com Santa Maria Maior a sair desta escala.
Segundo Ricardo Guimarães, esta perda de importância do centro histórico poderá explicar-se pela forte ligação deste território ao setor do turismo. “A pandemia ainda é uma ferida por sarar”, cujos reflexos se sentiram de forma aguda nesta zona, e “pode ainda gerar incertezas nos investidores quanto ao racional do investimento”. A dinâmica da promoção imobiliária, que partiu do centro e se foi expandindo para outras geografias da capital, é outra das razões.
Santo António manteve-se em 2021 como a principal opção para compra de habitação pelos estrangeiros, que aplicaram 176,6 milhões de euros nesta freguesia, um incremento de 39% face a 2019. Arroios passou a ocupar a segunda posição no ranking dos cinco principais destinos do capital de não residentes, captando 142,7 milhões (mais 42%). Nesta análise, segue-se a Estrela, onde o investimento aumentou mais de 50% para 106,9 milhões, a Misericórdia, que manteve o volume de investimento quase inalterado (102,2 milhões), e, a fechar, as Avenidas Novas, que atraiu quase 98 milhões, o dobro do que registou em 2019.
Compras nacionais
Em 2021, os portugueses ganharam de novo confiança e também incrementaram as suas aquisições na ARU de Lisboa. O investimento nacional atingiu 1535 milhões, um aumento de 34% face a 2020 e de 10% quando comparado com o ano pré-pandémico. Os nacionais compraram 4354 casas, volume idêntico a 2019, mas o ticket médio disparou para mais de 353 mil euros, um valor recorde. Apesar disso, o gap com o investimento médio dos cidadãos internacionais manteve-se estável. Os estrangeiros gastaram mais 48% por transação.
O mercado residencial da ARU de Lisboa gerou um investimento total de 2460 milhões de euros, mais 29% do que em 2020 e ilustrando uma subida de 14% face a 2019, com o número de operações a manter-se praticamente inalterado face ao pré-covid – cerca de 6100. Já no total do país, foram vendidas 165 682 habitações no ano passado, num valor global de 28,1 mil milhões de euros, com os preços a registarem um aumento de 9,4%.