Num extremo, a Alemanha, conhecida pela sua ortodoxia e rigor orçamental, no outro, a Itália, conhecida por não cumprir as regras orçamentais da UE. Talvez o que os aproximou tenha sido a recente decisão do Supremo Tribunal alemão de questionar o Governo alemão pela utilização incorreta de fundos extraorçamentais, o que colocou a situação das finanças públicas na Alemanha numa situação precária.
O certo é que os líderes dos dois países se reuniram e tanto o chanceler alemão, Olaf Scholz, como a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, destacaram os progressos na procura de um acordo sobre as novas regras fiscais da União Europeia antes do final do ano.
O Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE, que limita a dívida a 60% do PIB e os défices a 3% do PIB que vinculam as economias da zona euro, foi suspenso durante a pandemia para permitir despesas. Com a reintrodução das regras em 1 de janeiro, os governos pretendem implementar um novo sistema que tenha em conta questões específicas de cada país.
Embora ainda não haja acordo sobre quanta margem de manobra permitir a cada Estado-Membro e quando e se devem ser abertas exceções, o líder alemão disse que uma resolução está “muito mais próxima”.
“Para nós está claro que queremos que as regras de estabilidade desempenhem um papel”, disse Scholz aos jornalistas em Berlim, ao lado de Meloni. “Mas, ao mesmo tempo, também está claro para nós que nenhum país será forçado a adotar um programa de austeridade.”
Meloni reforçou a posição da Itália de que as regras devem proteger os investimentos, incluindo os gastos relacionados com a transição verde e a defesa em todo o bloco.
“É importante que as novas regras de governação tenham em conta os esforços feitos pelos países para apoiar essas transições, essas escolhas estratégicas”, disse Meloni.
Os dois líderes comprometeram-se a cooperar mais estreitamente em matéria de energia, defesa e migração na reunião de mais alto nível entre os seus governos nos últimos sete anos. Scholz deveria sediar uma reunião de gabinete conjunta com ministros de Roma, um formato reservado a aliados próximos.
Scholz, um social-democrata, e Meloni, dos Irmãos de Itália, de extrema-direita, pretendem trabalhar juntos, apesar das suas diferenças políticas. Scholz reiterou que está a examinar cuidadosamente um plano italiano para construir dois centros de processamento de asilo em território albanês.
Se os extremos se tocarem, é muito provável que os outros países da UE sigam o exemplo e o eixo Alemanha-França, que até agora tem estado no centro das decisões da UE, possa ser substituído pelo triângulo Alemanha, França e Itália.
Por José Correia Nunes
Director Executivo Portal de Angola