25 C
Loanda
Sábado, Novembro 23, 2024

Com medo, ruandeses em Moçambique dizem-se marcados para morrer

PARTILHAR

Centenas de cidadãos ruandeses refugiados há mais de duas décadas em Moçambique relatam um misto de angústia e pânico, devido ao que classificam de assassinatos selectivos contra membros da sua comunidade.

A lista dos cidadãos alegadamente” marcados para morrer”, começou a ser preenchida em 2012, com o assassinato de Theogene Turatsinze.

Em 2019, entrou para as páginas necrológicas Louis Baziga, então presidente da Associação dos Refugiados Ruandeses em Moçambique e, em Maio, o jornalista Ntamuhanga Cassien​ foi sequestrado por oito homens e levado à esquadra da Ilha de Manhica, tendo depois desaparecido.

A 13 de Setembro, o comerciante Revocat Caremangingo seguiu o mesmo caminho, assassinado em Maputo com “nove tiros de arma do tipo pistola”.

Para além de serem refugiados, Turatsinze, Baziga e Caremangingo tinham de comum, o facto de terem pertencido ao regime anterior a Paul Kagame e todos foram silenciados por força de armas de fogo.

Cleophas Habiyaremye, presidente da Associação, não tem dúvidas de onde veio a ordem.

“Nós, como comunidade ruandesa, sabemos bem, que este é um crime político. O nosso irmão Revocat, sabemos que desde 2016, que o Governo de Kigali procurou a maneira para lhe tirar a vida, e, infelizmente, no dia 13 de Setembro, conseguiu”, diz.

Calton Cadeado, docente de relações internacionais e diplomacia na Universidade Joaquim Chissano diz que “é preciso não tirar conclusões precipitadas”.

As mortes selectivas de refugiados ruandeses já aconteceram também na vizinha África do Sul.

Como consequência, Pretória e Kigali entraram em rota de colisão, com expulsões recíprocas de diplomatas, por causa dos episódios em causa.

Paulo Uache, também docente na Joaquim Chissano, considera que há algo estranho a acontecer e diz ser” preciso investigar, para daí tirar ilações, incluindo na responsabilidade de proteger”.

Protecção é o que as vítimas mais pedem.

De todos os casos já registados, da polícia, a resposta é quase a mesma: “Estamos a trabalhar para esclarecer o caso”.

Enquanto esperam pela melhor proteção, os vivos querem justiça pelas vítimas, “se não for dos homens, que seja divina”, afirma Cleophas Habiyaremye.

spot_img
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
spot_imgspot_img
ARTIGOS RELACIONADOS

Botswana e Moçambique duas visões opostas da África Austral

Estes últimos dias, ocorreu uma história de duas transições na África Austral. Primeiro as boas notícias. O Botswana, com...

Vários mortos nas manifestações em Moçambique

Várias cidades de Moçambique foram este sábado (02.11) palco de protestos contra os resultados eleitorais. Há registo de, pelo...

Tensão política em Moçambique atinge ponto crítico após eleições contestadas

Os moçambicanos preparam-se para mais turbulência política na sequência do apelo do líder da oposição, Mondlane, para uma semana...

Crise política agrava-se em Moçambique com manifestantes e jornalistas atacados esta manhã em Maputo pela polícia

A Polícia moçambicana dispersou esta manhã, 21 de outubro, uma manifestação no centro de Maputo, convocada pelo candidato presidencial...