Em uma hora, uma aldeia palestina da Cisjordânia ocupada ficou sem habitantes. Todos foram embora a pé, com suas cabras e suas ovelhas.
Cinco dias depois da explosão da guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza, os habitantes palestinos afirmam que dezenas de colonos israelenses chegaram ao povoado de Wadi al Seeq, acompanhados de policiais e soldados israelitas.
Deram o prazo de uma hora aos 200 habitantes da comunidade beduína para que deixassem suas terras, asseguram seus representantes.
A AFP entrou em contato diversas vezes com o Exército, que se recusou a responder.
“Pagamos pelo que aconteceu com eles”, diz Abu Bashar, que se refugiou ao lado de dez famílias em um terreno privado de Taybeh, no centro da Cisjordânia.
O criador de gado caprino, de 48 anos, refere-se aos ataques do movimento islamista palestino Hamas em território israelense de 7 de outubro, inéditos por sua violência e magnitude desde a criação do Estado de Israel em 1948. Segundo o balanço israelita, mais de 1.400 pessoas – sobretudo civis – morreram neste ataque.
Desde então, Israel está em guerra contra o Hamas e bombardeia incessantemente a Faixa de Gaza. Mais de 8.000 pessoas morreram no enclave, principalmente civis como em Israel, segundo a contagem do ministério da Saúde em Gaza, controlado pelo Hamas.
E na Cisjordância, ocupada por Israel desde 1967 e, onde já antes do conflito ocorriam confrontos frequentes, tem-se registrado um aumento da violência: mais de 110 pessoas morreram desde o início da guerra.
– Um pesadelo –
A convivência entre os três milhões de palestinos e os mais de 490.000 colonos israelitas, cuja ocupação é ilegal segundo o direito internacional, tornou-se especialmente tensa, com uma média de oito incidentes diários, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), incluindo atos de intimidação, roubos e agressões.
“Nem dormimos mais, é um pesadelo”, conta Alia Mlihat, uma moradora de Mu’arrajat, outra aldeia beduína situada entre Ramallah e Jericó.
Aos 27 anos, tem medo de que seu povo seja o próximo da lista. “Com a guerra, vemos que os colonos têm mais armas, é muito difícil, nos perguntamos o que vai acontecer”, explica.
“Estamos vivendo uma nova ‘Nakba’ por causa dos colonos e do Exército”, acrescenta, aludindo ao termo “catástrofe” em árabe, que designa o deslocamento e expulsão de mais de 760.000 palestinos durante a criação de Israel em 1948.
Este ano, os Mlihat, como a maioria dos beduínos palestinos, abandonaram o deserto de Neguev.
Desde 7 de outubro, 607 pessoas, das quais mais da metade eram crianças, foram deslocadas dentro da Cisjordânia, segundo o OCHA. Nos 18 meses anteriores, 1.100 pessoas já haviam deixado suas terras.
Os colonos da Cisjordânia estão longe de ter o apoio majoritário da opinião pública, mas contam com o apoio de políticos do primeiro escalão, incluindo o de responsáveis do governo de Benjamin Netanyahu, apoiado pela ultradireita.