O presidente chileno, Sebastián Piñera, anunciou nesta sexta-feira (5) que proibirá o ingresso no Chile de mais de 100 venezuelanos ligados ao governo de Nicolás Maduro, um dia depois de divulgado o relatório da ONU sobre a situação dos direitos humanos na Venezuela.
Segundo avança a AFP, com base no duro informe sobre a Venezuela apresentado em Genebra pela alta comissária da ONU para os Direitos Humanos e ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, Piñera anunciou medidas para enfrentar a crise venezuelana.
O Chile se soma, assim, aos países sul-americanos que impuseram sanções a pessoas com vínculos com o governo venezuelano. Em janeiro, a Colômbia proibiu a entrada de mais de 200 colaboradores de Maduro no país, enquanto a Argentina fechou as portas para mais de 400.
“Vamos proibir o ingresso no Chile de mais de 100 pessoas que estão diretamente ligadas à ditadura da Venezuela. São pessoas que são parte do governo venezuelano”, disse Piñera, em entrevista coletiva.
Piñera também anunciou que pedirá a Bachelet que entregue “todos os antecedentes e provas que sustentam o relatório ao Tribunal Penal Internacional” e que peça ao Conselho de Direitos Humanos da ONU a “ficar vigilante no tema dos direitos humanos na Venezuela”.
O informe da ONU relata o assassinato de cerca de 7.000 pessoas desde 2018 por parte das forças de segurança e afirma que o exercício das liberdades e dos direitos fundamentais, como a liberdade de expressão no país sul-americano, são “um risco de represálias e de repressão”.
“Este último informe é lapidar. É preciso ter muita força para lê-lo pelas atrocidades cometidas pelo governo de Nicolás Maduro”, declarou Guaraquena Gutiérrez, a representante no Chile do líder do Parlamento venezuelano, Juan Guaidó, autoproclamado presidente encarregado reconhecido por cerca de 50 países.
“É um relatório necessário e útil para poder avançar frente aos graves e trágicos problemas que afetam a Venezuela”, afirmou Piñera.
Bachelet elaborou o documento, após sua recente visita ao país para ver de perto da realidade da crise. Depois de sua estada, Caracas libertou 62 detidos, entre eles o jornalista chileno-venezuelano Braulio Jatar e a juíza Lourdes Afiuni.
O informe de Bachelet “é de uma verdade demolidora”, disse Jatar ao canal de notícias 24 horas, agradecendo a Bachelet por seu interesse pela prisão domiciliar em que foi posto desde 2017. Ele havia sido detido um ano antes por registrar imagens durante um protesto contra Maduro.
– Crítico ferrenho –
O presidente chileno foi um dos mais duros críticos do governo de Maduro, pedindo-lhe que “ponha fim à ditadura” e convoque novas eleições no menor tempo possível. Também reconheceu o líder parlamentar de oposição Juan Guaidó como legítimo presidente da Venezuela.
“A melhor solução para a tragédia em que vive o povo venezuelano é que termine esta ditadura, que se constitua um governo de transição e que se convoque o quanto antes eleições limpas, livres, transparentes e democráticas”, afirmou Piñera.
O Chile recebeu em sua embaixada em Caracas pelo menos dez opositores venezuelanos. Alguns deles conseguiram sair do país e se instalaram em Santiago. Também foi um ativo membro do Grupo de Lima, composto em 2017 por mais de dez países do continente para buscar uma saída pacífica para a crise venezuelana.
Mais de quatro milhões de venezuelanos deixaram seu país, segundo dados da ONU, fugindo da crise econômica atroz que reduziu em mais da metade o PIB do país.
Com cerca de 400.000 pessoas chegadas nos últimos anos fugindo da grave crise na Venezuela, o Chile é o terceiro maior receptor de venezuelanos na região, atrás de Colômbia e Peru. A comunidade se tornou a maior colônia estrangeira no país, representando 30% da população imigrante.
O governo chileno estima que, até 2020, devem entrar outros 300.000 venezuelanos no país, pondo as autoridades em alerta diante das complicações que esse êxodo em massa pode causar internamente.