Nos 55 anos da ditadura militar no Brasil, cerca de 400 pessoas protestaram hoje nas ruas da capital, Brasília, contra a decisão do Presidente Jair Bolsonaro de celebrar a data, informou à Lusa a Polícia Militar.
“Ditadura nunca mais” ou “mais amor e menos ódio” foram algumas das frases que se puderam ler nas faixas de protesto utilizadas pelos manifestantes, que se vestiram maioritariamente de branco.
“Nós não podemos deixar uma manifestação desse tipo [decisão presidencial de celebrar o aniversário da ditadura] passar sem nos manifestarmos. Nós vamos às ruas dizer ‘ditadura nunca mais’, ‘golpe nunca mais’. Nós não reconhecemos essa comemoração que o Governo apresenta”, discursou Yuri Soares, organizador do evento e integrante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), citado pela plataforma Poder360.
Membros de movimentos sociais presentes na manifestação aproveitaram ainda para pedir a liberdade do ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
O chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, autorizou o Ministério da Defesa a comemorar os 55 anos do golpe que deu início à ditadura militar no país, anunciou na segunda-feira o porta-voz da Presidência.
O golpe militar que depôs o então Presidente brasileiro João Goulart, descendente de portugueses, ocorreu em 31 de Março de 1964, iniciando-se depois uma ditadura no país que durou 21 anos.
Durante esse período, não houve eleição directa para o cargo de Presidente, o Congresso Nacional foi fechado e a imprensa local censurada.
Foram várias as organizações internacionais que se posicionaram contra a decisão de Bolsonaro, como é o caso da Human Rights Watch (HRW).
“Bolsonaro critica com razão os governos de Cuba e Venezuela por violarem os direitos básicos dos seus povos, mas, ao mesmo tempo, ele celebra uma ditadura militar no Brasil que causou um sofrimento indescritível a dezenas de milhares de brasileiros”, disse José Miguel Vivanco, director para as Américas da organização de defesa dos direitos humanos.
A organização também frisou que reconhecer este dia é comemorar o facto de que durante a ditadura brasileira cerca de 20.000 pessoas foram torturadas e pelo menos 434 pessoas foram assassinadas ou desapareceram.
Também o relator das Nações Unidas para a promoção da verdade e justiça, Fabián Salvioli, classificou como “imoral” a celebração dessa data.
“Comemorar o aniversário de um regime que trouxe tal sofrimento para a população brasileira é imoral e inadmissível numa sociedade baseada no Estado de Direito”, afirmou Salvioli na sexta-feira.
No meio da controvérsia, Bolsonaro afirmou na semana passada que nem em 31 de março de 1964 houve um golpe de Estado, nem os acontecimentos daquele dia deram origem a uma ditadura militar.
Durante o período em que foi deputado federal, Jair Bolsonaro sempre defendeu que o Brasil não viveu uma ditadura entre 1964 e 1985, mas sim um “regime com autoridade”.
Bolsonaro chegou ainda a homenagear em plenário o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela justiça de São Paulo como torturador durante o regime militar.
Para o actual chefe de Estado do Brasil, Ustra é um “herói brasileiro”.