O Centro Ortopédico Regional de Reabilitação Polivalente de Viana, em Luanda, tem vindo, nos últimos anos, a ganhar o seu espaço no tratamento e recuperação física de pessoas vítimas de acidentes vasculares cerebrais (AVC) ou de viação. Inaugurado há 22 anos, está agora a ser alvo de obras de reabilitação, ampliação e modernização, para tornar possível prestar assistência médica nas especialidades de clínica geral, medicina interna, neurologia, psicologia clínica, estomatologia e imagiologia. Todos os dias, mais de 30 pessoas são atendidas na área de ortopedia.
Domingas Paulo, vítima de dois AVC que lhe paralisaram os movimentos do braço e da perna esquerdos, além da fala, encontrou, há dois meses, no Centro, a assistência médica de que necessitava para a sua recuperação. Desde então, três vezes por semana é submetida a sessões de fisioterapia que, aos poucos, começam a surtir os seus efeitos.
“Antes de ser assistida aqui no Centro, não conseguia movimentar-me e muito menos pronunciar palavras. Mas, devido à terapia, aos poucos já consigo dizer coisas que se percebem e estou a ganhar estabilidade nos membros superiores e inferiores”, explica.
Francisca Almeida, 17 anos, é outra paciente que conseguiu recuperar a mobilidade dos membros inferiores, depois de ter fracturado, por duas vezes, a perna esquerda, vítima de um acidente de viação. “Hoje, estou mais feliz e confiante. Já tenho estabilidade nas pernas e consigo andar sem as muletas, coisa que há dois meses era impossível. Para tudo temos de ter força de vontade, disciplina e acreditar no trabalho dos fisioterapeutas”, diz com satisfação. O director-geral do Centro, Paulo Jorge Van-Dúnem, explica que na área de ortopedia também são feitas correcções cirúrgicas aos pacientes amputados e com necessidades de próteses. “Hoje já não temos necessidade de enviar os pacientes para o Hospital do Prenda para serem submetidos a esse tipo de cirurgia porque já fazemos correcções, reabilitação e próteses”, frisa.
Devido à grande procura, os serviços estão a ser ampliados e as áreas de fisioterapia, ginásio e oficinas ortopédicas, onde são realizadas as terapias de recuperação da fala, reabilitação e fisioterapia, modernizadas.
Actualmente com 220 camas, vai passar a dispor de 260. “Todos estes serviços vão aumentar a capacidade de assistência e melhorar a qualidade dos serviços”, refere Paulo Jorge Van-Dúnem, realçando o facto de o centro atender doentes de todo o país.
O director-geral da instituição garante que os problemas de falta de materiais gastáveis, principalmente na área de próteses e órteses, vão ser resolvidos até Novembro, altura em que o Centro começa a receber as novos equipamentos, no âmbito da sua ampliação e modernização.
“São máquinas de última geração adquiridas pelo Ministério de Saúde e que vão possibilitar a produção de próteses e órteses iguais às que se usam em qualquer parte do mundo”, sublinha.
Crianças em reabilitação
No Centro também são atendidas crianças com sequelas de meningites ou de lesões pós-parto, numa sala específica equipada com os meios básicos para a sua recuperação. Pintada com cores vivas, tem brinquedos e aparelhos específicos para estimular os seus membros durante as sessões de fisioterapia.
Elisabete Barros, técnica de reabilitação, garante que após 45 sessões de fisioterapia, distribuídas em duas ou três por semana, as crianças têm boas hipóteses de recuperar. Na área de reabilitação física infantil, as crianças com problemas nos membros inferiores realizam exercícios em barras paralelas e escadas para corrigir a marcha. Existe ainda um plano inclinado para estimular as pernas e espelhos para exercícios faciais. Além das técnicas de reabilitação, os desenhos animados do Mickey Mouse e Tom e Jerry, as bolas e as canções infantis, têm sido uma grande ajuda para a recuperação das crianças.
Aparelhos de correcção
Todos os dias as técnicas se aperfeiçoam. A assistência rápida e pontual, importante na recuperação psicomotora das pessoas que se deslocam ao Centro, é um dos desafios dos técnicos.
As lesões congénitas ou adquiridas, na sequência de alguma doença, podem ter indicações para ser corrigidas através de fisioterapia ou de dispositivos ortopédicos.
Nazaré da Gama ficou surpreendida quando lhe disseram que podia tratar a sua filha, com um ano e nove meses, em Angola.
A bebé, que sofre de uma deficiência congénita caracterizada por uma deformidade que consiste no arqueamento das pernas e designada por Joelho Varo (ou Geno Varo), vai agora passar a usar uma órtese de correcção nocturna.
“Primeiro, por ignorância, achámos normal, porque parte da minha família tem as pernas arqueadas”, explicou Nazaré, acrescentando que, preocupada com a situação da filha, que não registava melhoras na sua forma de andar, procurou serviços especializados no Centro Ortopédico Regional de Reabilitação Polivalente de Viana, onde encontrou a solução para o problema.
No primeiro contacto com o ortopedista Luís Alves, foi-lhe explicado que, além do Joelho Varo, existe também o Joelho Valgo (ou Geno Valgo), uma deformidade que se caracteriza pelo facto da criança ter os joelhos muito juntos (membros em formato de tesoura ou em X).
“Normalmente realizamos três fases de tratamento. Quando as curvas apresentam flexibilidade de menos de 15 graus, são tratados com fisioterapia, os de 20 a 35 graus são tratados com dispositivos ortopédicos, neste caso coletes, e quando as curvaturas são severas, de aproximadamente 40 graus ou mais, requerem, muitas vezes, um tratamento cirúrgico.
No Centro de Viana são ainda produzidos aparelhos correctores, palmilhas, botas e ténis ortopédicos, que são entregues gratuitamente a qualquer cidadão que deles necessite, depois das consultas.
