O catolicismo alemão está em crise: centenas de milhares de pessoas abandonam formalmente a Igreja Católica a cada ano.
Apesar queda no número de fieis ter desacelerado no ano passado em comparação ao ano anterior, a tendência de debandada permanece: em 2022, um número recorde de 522,8 mil pessoas deixou a igreja; em 2023, a cifra foi de 402,6 mil, segundo informado pela Conferência de Bispos da Alemanha na cidade de Bonn.
Atualmente, a Igreja Católica reúne um total de 20,3 milhões de fieis na Alemanha – 24% da população –, número que pode recuar pela primeira vez para abaixo dos 20 milhões ainda neste ano.
“Implosão irreversível”
O teólogo Thomas Schüller fala em “implosão irreversível” da Igreja Católica, que deve se transformar em uma denominação religiosa “minoritária”.
Em 2019, um estudo da Universidade de Friburgo previa que o número de membros das igrejas católicas e protestantes cairia pela metade até 2060, ficando abaixo da casa dos 23 milhões – previsão que se concretizou muito antes, em um par de anos.
“Os números são um indicador da realidade”, constatou o presidente da Conferência de Bispos da Alemanha e bispo de Limburg. “São alarmantes. Mostram que a Igreja está em uma crise generalizada.”
Segundo o bispo Bätzing, a Igreja está em “crise” e reformas não resolverão o problema, mas evitarão que ele piore.
Fieis deixam a Igreja por diferentes motivos, mas escândalos de abusos sexuais nos altos escalões da fé e a questão tributária têm contribuído para o seu encolhimento, que é acelerado pela morte de fieis idosos.
Filiação religiosa é questão tributária na Alemanha
Na Alemanha, a filiação religiosa é medida pelas declarações oficiais de pertencimento, usadas no recolhimento de impostos às denominações religiosas.
Funciona assim: toda pessoa que reside na Alemanha tem que se registrar junto a um órgão da Prefeitura. Se declarar no ato do registro que segue uma religião, ela terá parte de sua renda automaticamente recolhida em impostos destinados à manutenção de denominações oficialmente registradas e reconhecidas junto ao Estado.
As igrejas Católica e Evangélica recolhem valores que variam entre 8% e 9% da renda da pessoa física, descontado o teto de isenção fiscal. Algumas religiões, porém, prescindem desse imposto – é o caso do Islã e da Igreja Ortodoxa.
Situação dos protestantes não é melhor
A situação da Igreja Protestante também não é muito melhor na Alemanha: em 2023, a debandada foi de 380 mil membros, patamar semelhante ao de 2022, segundo dados da entidade representativa do grupo, a EKD. A denominação reúne 18,5 milhões de fieis.
Uma pesquisa da própria EKD aponta que 56% da população alemã diz seguir uma religião.