O julgamento do major Pedro Lussaty e outros 48 réus acusados de envolvimento num esquema que terá desviado dezenas de milhões de dólares da Casa de Segurança da Presidência angolana, segundo a Procuradoria Geral da República (PGR), está a chegar ao fim.
O principal personagem dessa história que explodiu em Maio de 2021, Lussaty falou nesta segunda-feira, 24, ao tribunal e disse estar a ser usado como bode expiatório de uma luta de grupos que lutam entre si.
Ele reiterou que muitos dos bens apreendidos na sua posse são de pessoas muito poderosas que não querem contar a verdade.
O antigo tesoureiro da banda musical da Presidência da República acusou a PGR de ter-se apoderado de documentos que comprovam a origem das suas posses.
Na sua última oportunidade para falar em sua defesa no processo que julga 49 arguidos por de crimes de peculato, associação criminosa, recebimento indevido de vantagens, participação económica em negócios e abuso de poder e também de fraude no transporte ou transferência de moeda para o exterior do País, comércio ilegal de moeda, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e de falsa identidade, Lussaty disse ter perdoado os procuradores que representam o Estado neste processo e outras figuras que não quis mencionar nomes.
Na ocasião, ele se desculpou junto dos juízes caso tenha se excedido do decorrer do julgamento.
“Não deve nada à Casa Militar”
Lussaty aproveitou o momento para pedir ao juiz que seja posto em liberdade e que lhe seja devolvido os seus pertences porque tudo quanto foi aprendido é dele e não da Casa Militar.
“Dinheiro não se apanha, é preciso haver ciência”, acrescentou o major, que mencionou na ocasião ter conseguido a sua fortuna com vendas de terrenos em zonas privilegiadas e contratos com parceiros internacionais.
“Eu não devo nada à Casa Militar, a Casa Militar é que me deve”, continuou o major, lamentando o facto te ter sido exposta a sua imagem quando é um simples major e perguntou “como é que eu que sou major tenho tudo isso e eles que são generais não têm, não era mais fácil eles terem mais do que eu?”
Ele lembrou que “na Casa Militar tem mais de 10 generais, tem chefes, directores, assessores, consultores, muitos deles são responsáveis da gestão orçamental, mas não estão aqui, apenas é visado o Lussaty”.
“Bode expiatório”
Nas declarações ao juiz, ele disse entender que “a intenção seja apenas eu ser usado como um bode expiatório, essa é uma guerra híbrida onde eu sou um bode expiatório”.
E acrescentou que “os grupos que estão a digladiar-se, uns estão de um lado e outros do outro lado, mas o Pedro Lussaty está no meio e está a ser usado como um bode expiatório”.
Lussaty voltou a dizer que o dinheiro apreendido faz parte do seu património, avaliado em mais de 101 milhões de euros, e também dos seus sócios, “que a qualquer momento podem reclamar o mesmo”.
Questionado se sobrefacturou folhas de salário na Casa de Segurança, como disse a acusação, o major respondeu que “é uma cilada que fizeram contra mim”, porque “enquanto oficial da Casa de Segurança nunca tive autoridade e nem autonomia e nem na UGP [Unidade de Guarda Presidencial]”.
“Na Casa Militar tem mais de 10 generais, tem chefes, diretores, assessores, consultores, muitos deles são responsáveis da gestão orçamental, mas não estão aqui, apenas é visado o Lussaty”.
O major foi detido na “Operação Caranguejo” em Maio de 2021, supostamente na posse de milhões de dólares e euros, imóveis de luxo e carros de topo de gama.