O advogado Romeu Catema que defende dois dos réus no chamado “caso Lussaty” disse hoje haver uma “zona cinzenta” de politização do julgamento em que foram até agora revelados desvios de avultadas contas de dinheiro para beneficiar o partido no poder, o MPLA e também alegadamente o desvio de fundos destinados ao pagamento de batalhões do exército em cujas listas estavam incluídos nomes de funcionários e familiares.
O oficial Pedro Lussaty da Casa Militar da presidência foi preso e milhões de dólares confiscados num caso que levou à prisão de vários outros oficiais.
Hoje um antigo colaborador da antiga casa de Segurança do Presidente Paulo Miguel disse ao tribunal que fundos destinados aos batalhões eram usados também para tentar subornar militantes da UNITA.
Foi a segunda vez que a tentativa de suborno de militantes da UNITA com fundos do estado foi feita perante o tribunal.
O coronel Jacinto Hengombe, antigo antigo assistente principal da Secretaria Geral da ex-Casa de Segurança, actualmente Casa Militar do Presidente da República, que se encontra preso, tinha anteriormente afirmado que parte do dinheiro retirado de contas do BCP foi usado para tentar subornar esses militantes na província do Kuando Kubango.
Na Sexta-feira o Coronel Manuel Correia da ex-Casa de Segurança disse ao tribunal existirem batalhões “fantasma” do exército no Kuando Kubango cujos pagamentos eram feitos com dinheiro transportado em malas. .
Isso era controlado pelos general Eusébio de Brito Teixeira e António Mateus Júnior de Carvalho “Dylangue”, sob conhecimento do geral Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”.
Nas folhas de salários estavam incluídos salários de funcionários públicos daquela província , e familiares de funcionários da brigada de desminagem
Correia disse que recebeu ordens do general Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, então ministro de Estado e chefe da Casa Militar do PR, através do major Pedro Lussaty, que lhe entregou a lista de pessoas que não faziam parte do batalhão de transporte rodoviário da Casa de Segurança no Kuando Kubango, mas que passariam a receber salários todos os meses.
As malas de dinheiro que sobravam, do pagamento em mão dos militares e funcionários da brigada de desminagem, regressava a Luanda e eram entregues aos generais e outros militares a mando superior.
Esta foi a segunda vez que o nome do general “Kopelipa” aparece associado ao escândalo.
Anteriormente ao detalhar o uso de fundos retirados do BCP para o MPLA o Coronel Hengombe tinha afirmado que isso era feito sob orientação dos generais “Hélder Viera Dias “Kopelipa”, Cerqueira João Lourenço e do então secretário geral da Casa de Segurança do Presidente da República”, de quem recebia orientações directas.
O advogado Romeu Catema disse hoje não ter queixas quanto ao andamento do julgamento que “está a seguir dentro dos parâmetros normais”
Interrogado sobre se considerava o julgamento como estando a ser politizado o advogado respondeu:
“Não diria que há politização mas existem algumas zonas cinzentas próprias da natureza do próprio processo”.