O coronel Jacinto Hengombe, antigo assistente principal da secretaria-geral da ex-Casa de Segurança, actual Casa Militar do Presidente da República, revelou em tribunal, no prosseguimento do julgamento do “caso Lussaty”, que a Unidade da Guarda Presidencial (UGP) financiou as campanhas eleitorais do MPLA de 2008, 2012 e 2017.
O ex-homem de confiança do secretário-geral da antiga Casa de Segurança, que em 2021 viu a designação alterada para Casa Militar do Presidente da República, relevou também, sem fornecer provas complementares à sua palavra, que a UGP usou o seu fundo operativo para corromper militantes da UNITA na Jamba e Mavinga, no Kuando Kubango, assim como na província do Bié para que estes deixassem o partido e ficassem em contradição com a direcção do “Galo Negro”.
Em tribunal, esta terça-feira, 30, o coronel da UGP disse que Casa de Segurança do PR suportou as despesas logísticas do MPLA nas eleições de 2008, 2012, 2017 e que o dinheiro era canalizado para a Unidade da Guarda Presidencial através da Casa de Segurança, embora tenha dado como garantia apenas a sua palavra.
“Esse dinheiro vinha em forma de salário na Unidade da Guarda Presidencial, via Casa de Segurança, para uso exclusivo da logística do MPLA. Nós usávamos o dinheiro nos comícios, na mobilização de militantes que resultaram na vitória do MPLA, nessas eleições”, contou o arguido em tribunal.
Aos juízes, Jacinto Hengombe disse que o tribunal pode saber mais sobre esse assunto caso chamem os generais Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, então ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República e Sequeira João Lourenço (irmão do PR João Lourenço), que eram os chefes da Casa Militar na altura.
“Na Casa de Segurança do PR, para além dos valores destinados para vencimentos e salários, havia também despesas operativas e esses valores todos passavam pela UGP. Eu recebia ordem para ir buscar os valores para as despesas operativas, que eram para apoiar as eleições. Apoiamos a campanha eleitoral do MPLA e do Presidente José Eduardo dos Santos nas eleições de 2008, 2012 e para o Presidente João Lourenço, em 2017”, relevou, sendo de notar que o tribunal não pediu para o arguido apresentar provas das graves acusações que estava a fazer.
Interrogado pelo tribunal se cabia à Casa de Segurança do PR apoiar as eleições do MPLA e do seu líder, o antigo assistente principal da secretária-geral respondeu ao juiz para questionar a direcção da Casa de Segurança.
O coronel arguido assegurou ainda que da Casa de Segurança do Presidente da República também saia dinheiro para o Gabinete de Revitalização da Comunicação Institucional e Marketing da Administração (GRECIMA), gerido pelo ex-ministro da Comunicação Social, Manuel Rabelais, tendo sido este condenado a 14 anos de prisão por desvios de fundos deste “Gabinete” que foi extinto com a chegada de João Lourenço à Presidência.
O Antigo assistente principal da secretária-geral da Casa de Segurança, garante que quem assinava os planos de pagamentos das unidades dependentes e independentes, eram os generais Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e o seu adjunto, Sequeira João Lourenço.
“Eu apenas assinava quando o secretário-geral estivesse ausente. Mas antes chamavam-me ao gabinete para me autorizarem porque o chefe tinha muito expediente”, disse.
Questionado pelo juiz se assinou as folhas de pagamentos a mando do seu superior, respondeu que sim e que o fez durante muitos anos.
“Apenas recebia ordem dos meus superiores. Um coronel não pode questionar nem negar ordem de um general”, salientou.
O coronal contou ser um dos oficiais credenciados pela Casa de Segurança para ir levantar o dinheiro na caixa forte de uma instituição bancaria e levar à tesouraria da UGP, mas devidamente escoltado pela guarda presidencial.
Perguntado se fazia o pagamento da Banda de Música da Casa de Segurança, como refere a acusação, o ex-homem de confiança do secretário-geral respondeu que não era ele quem o fazia.
Interrogado se tinha competência para autorização financeira na Casa de Segurança, respondeu que não e salientou: “os militares apenas cumprem ordens”.
Questionado se o Ministério das Finanças fazia auditoria na Casa de Segurança do Presidente da República, respondeu que não e que nunca viu.
Perguntado qual era a relação que mantinha com o major Pedro Lussaty, a principal figura do processo, respondeu que não mantinha nenhuma relação com o mesmo.
Perguntado sobre o porquê de o seu nome aparecer na lista de beneficiários do dinheiro fraudulento da UGP, o coronel, que se encontra em prisão preventiva, disse não saber.
Solicitado a esclarecer de quem era a competência de retirar da folha de salário os nomes dos militares falecidos, respondeu ser da área de pessoal e quadro e do Chefe do Estado Maior General das FAA.
O julgamento do caso Lussaty prossegue esta semana, no Tribunal de Comarca de Luanda, em Talatona, com interrogatório aos demais arguidos no processo.