A Carrinho Empreendimentos S.A tornou-se, esta sexta-feira, no novo proprietário do Banco de Comércio e Indústria (BCI), após vencer o primeiro leilão em bolsa realizado em Angola, ao desembolsar 16,5 mil milhões de Kwanzas, na sessão que contou apenas com dois concorrentes.
Com efeito, a carrinho superou o seu adversário directo em Kz 1.5 milhões acima do valor mínimo inicial da arrematação (150 mil kwanzas), ao fim de 22 licitações, num processo conduzido pela Bolsa da Dívida de Valores de Angola (Bodiva) e supervisionado pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE).
A privatização do lote total (100%) das acções do Banco de Comércio e Indústria resulta do Despacho Presidencial N.º 66/20, de 05 de Maio, que autorizou a abertura do processo de alienação das acções representativas do capital social desse banco, detidas pelo Estado, no quadro do Programa de Privatizações (PROPRIV).
Este processo, que teve várias etapas, teve cerca de 30 propostas não vinculativas de nacionais e estrangeiros, onde foram encontradas, pela Comissão encarregue, duas empresas concorrentes previamente qualificadas, que apresentaram, hoje, as suas ofertas monetárias, em 30 minutos de “contenda”.
Para o secretário de Estado das Finanças e Tesouro, Ottoniel dos Santos, este evento vai ficar marcado na historia económica e financeira do país.
Explicou que apesar da trajectória negativa deste banco, a equipa foi abnegada em trabalhar para garantir que o mesmo estivesse em condições de cumprir com os requisitos, tanto do regulador como do gestor do mercado, garantindo assim a possibilidade da realização desse leilão em bolsa.
Ottoniel dos Santos acrescentou que, de facto, o BCI recebeu um aporte acima de Kz 30 mil milhões por parte do accionista Estado para poder cumprir com os requisitos do Banco Nacional de Angola (BNA), quando ainda se precisava mais 27 mil milhões de kz para a sua recapitalização e ou revitalização.
“Entretanto a equipa dessa instituição financeira e todas as entidades envolvidas no processo de ajustamento da Operação BCI conseguiram poupar 27 mil milhões de Kwanzas ao Estado. Somados aos Kz 16.5 mil milhões que o Estado vai arrecadar representa um ganho superior ao custo viabilizado com a sua recapitalização”, frisou.
Últimos accionistas
Até então, o BCI tinha na sua estrutura accionista o Ministério das Finanças (98,915%), a Sonangol, a Ensa, o Porto de Luanda e a TAAG, com 0,1894% cada, a Ceval e a TCUL, ambos com 0,0794%, Endiama e Angola Telecom, com igual valor, e Bolama (0,0094%).
O Banco de Comércio e Indústria (BCI) teve, em 2020, resultados líquidos na ordem dos 4 197,6 mil milhões de kwanzas, contra os 26 190,2 mil milhões negativos registados em 2019, saindo dos resultados negativos. À data, os fundos próprios da instituição atingiram, no ano transacto, os Kz 26 256,8 mil milhões.
Antes, no período homólogo de 2019, esses fundos foram negativos, de 36 832,2 mil milhões de Kwanzas.
Na altura, o rácio de solvabilidade regulamentar fixou-se em 16,6% (-29,29% de 2019), acima do limite mínimo exigido pelo Regulador, o Banco Nacional de Angola (BNA), que é de 10 por cento. Tais resultados evidenciam uma evolução que permitiu reverter a situação negativa registada em igual período do ano anterior.
Com uma rede de atendimento de 149 pontos, espalhados pelas 18 províncias do país, o Banco de Comércio e Indústria contava, até os finais de 2019, com 47 mil 473 clientes da “classe c”, empresarial e institucional.
O novo proprietário
Fundada em 1993, a Carrinho é uma empresa familiar angolana que está empenhada em desenvolver a primeira estrutura organizacional verticalmente integrada do sector alimentar, gerindo todas as etapas do processo: a origem, o transporte, o armazenamento, a transformação e a comercialização.
Na sequência da alienação de hoje, em se sagrou vencedora, emitiu uma nota a adiantar que o BCI vai priorizar, doravante, o sector da agricultura familiar, perspectivando estabelecer cadeias de valor estruturados em zonas rurais, que vão trazer os pequenos agricultores para o sistema financeiro bancário nacional.
“Vamos preservar as conquistas alcançadas pelo banco ao longo dos anos, sem descurar a carteira de clientes do sector público, mas pretendemos prestar uma atenção muito especial a um sector até aqui não muito apetecível, a agricultura familiar”, destaca a nota à imprensa.
Acrescenta que o grupo Carrinho ambiciona também transformar o BCI no maior banco comercial e de fomento da agricultura familiar de Angola, complementando, desta forma, as políticas do Executivo, com vista ao reforço da estratégia da diversificação da economia nacional.
No médio e longo prazo, é pretensão cotar parte das acções do banco na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), possibilitando, desse modo, que os angolanos possam participar do sucesso que a empresa almeja para BCI.