A campanha eleitoral do MPLA e do candidato João Lourenço, que terminou oficialmente depois de um mês de andanças pelo País, apostou numa mensagem de continuidade da governação ensaiada durante os últimos cinco anos, pedindo aos eleitores mais um mandato para implantar os projectos lançados pelo governo.
Por outro lado, ainda não foi em 2022 que o MPLA aceitou participar em debates entre os candidatos às eleições, nem que a cobertura da imprensa foi mais equilibrada, naquela que poderia ser uma oportunidade de luxo para melhor esclarecer os eleitores sobre as propostas colocadas em cima da mesa.
O encerramento da campanha do MPLA aconteceu no sábado, 20, na zona de Camama, em Luanda, num comício marcado pela forte mobilização, que juntou dezenas de milhares de pessoas. João Lourenço não reafirmou ou anunciou grandes promessas para o futuro do País e o discurso político focou-se, sobretudo, naquilo que foi realizado durante a última legislatura. A sua intervenção, com um estilo próximo ao utilizado nos discursos do Estado da Nação, começou com um aceno directo à comunidade internacional, aproveitando a presença de bastantes jornalistas estrangeiros, ideia que se interligou com o combate à corrupção e com uma eventual melhoria, conquistada durante a última legislatura, da imagem de Angola no exterior.
Curiosamente, João Lourenço optou estrategicamente por evitar dois pronunciamentos sobre temas específicos que poderiam ter um efeito catalisador na campanha ou, em sentido oposto, também apresentavam a possibilidade de abertura de uma nova ronda de ataques e acusações entre o MPLA e os partidos na oposição: uma hora e meia passou sem qualquer referência ao funeral de José Eduardo dos Santos e sem uma única farpa dedicada ao seu principal e histórico adversário, a UNITA.
Também é interessante assinalar que o conteúdo do discurso de encerramento, normalmente motivador para o dia da votação, incluiu poucos elementos de apelo à mobilização dos eleitores – apenas nos últimos minutos surgiram os slogans e as palavras de ordem típicas destes momentos.
Acusações e pactos por firmar
Ao contrário dos últimos dias, o início da campanha eleitoral foi pródiga em mensagens cruzadas entre os diferentes partidos e candidatos, com especial incidência para a disputa política entre o MPLA e a UNITA. As insinuações de cariz racial ou as graves acusações a algumas organizações da sociedade civil, só para lembrar dois exemplos concretos, originaram animados debates e posicionamentos públicos a favor e contra – agora com o apoio das redes sociais, que se tornaram um dos campos essenciais de esgrima política (sobretudo no caso de Angola, onde a comunicação social vive em profunda crise de confiança junto dos cidadãos). As trocas de argumentos e de acusações, normais em competição política, ainda provocam receios junto da maioria dos cidadãos, que associa estas tendências ao incitamento à violência.
A referida evolução ou alteração do quadro mediático tem vantagens (acesso mais facilitado à informação e aos programas dos partidos, por exemplo) e desvantagens (desinformação e manipulação da opinião pública). A campanha digital do MPLA também foi expressiva, com a utilização de inúmeras ferramentas específicas para as redes sociais, no entanto, as páginas oficiais do partido estavam, nas secções de comentários, repletas de perfis falsos que reforçavam mensagens positivas sobre o candidato João Lourenço.
Outro momento marcante durante a campanha eleitoral, talvez um dos mais importantes pela seriedade e pertinência do tema em questão, está associado à ideia de um eventual pacto político ou de estabilidade (que defina as condições, os limites e as mudanças necessárias para que a alternância política, no futuro, não se transforme num bloqueador do País) a ser negociado entre os diferentes partidos e outros representantes da sociedade civil.
A resposta do MPLA à informação, libertada pela UNITA, sobre a realização de um encontro oficioso para abordar o assunto foi rápida. A julgar por alguns posicionamentos independentes, é possível que este tema ou outra abordagem similar, que pode ser importante para o futuro do País, ganhe relevância nos próximos cinco anos.