Frank Biya pode substituir o pai, Paul Biya, de 88 anos, como Presidente? De acordo com a Constituição, a resposta é não. Mas não é impossível. Nas últimas semanas, possibilidade tem agitado o cenário político camaronês.
O primeiro filho do chefe de Estado dos Camarões ainda é pouco conhecido pela maioria dos camaroneses, mas ganhou notoriedade pública recentemente. Nas últimas semanas, os rumores de que poderá assumir a Presidência do país aumentaram depois de os meios de comunicação social terem avançado que Frank Biya alegadamente estará a fundar o seu próprio partido político, como parte da sua preparação para assumir o lugar que atualmente é do pai.
Camaroneses em bares, mercados e meios de comunicação locais partilham agora opiniões variadas sobre o tema. Políticos e analistas juntaram-se ao debate para questionar se os Camarões estão em vias de se tornar uma monarquia.
Enquanto alguns consideram que será um movimento normal se o filho do Presidente Paul Biya passar por uma eleição democrática, outros sustentam que tal sonho não é irrealista, como já se observa em outros países da África francófona, como o Gabão e o Togo.
“Não queremos uma monarquia”
O analista político Ako John Ako diz que se o regime de Biya permitir tal transição nos Camarões, poderá agravar as crises existentes no país.
“Frank Biya tornar-se Presidente não é o ideal e, de facto, irá irritar muitos camaroneses e poderá provocar outros conflitos, como já vimos. Combater o Boko Haram no norte, a Seleka no leste e a crise no noroeste e sudoeste são apenas questões que vão manter os Camarões em pedaços”, alerta.
Njang Denis, líder da oposição, alertou para as implicações legais caso o filho do Presidente tente assumir o lugar do pai. Na sua opinião, será uma violação da Constituição dos Camarões.
“A questão torna-se um problema quando é inconstitucional. Não queremos o mesmo cenário de quando o ex-Presidente Ahidjo preparou o terreno para Biya entrar. Não queremos uma monarquia. Para mim, [a sucessão de Paul Biya pelo seu filho] é antidemocrática e anticonstitucional”, argumenta.
Um direito “legítimo e político”
O historiador camaronês Kedia Robert discorda do político da oposição. “Frank Biya é camaronês. Tem o seu direito legítimo e direito político de intervir em qualquer posição. Não o desacreditaríamos porque o seu pai é Presidente”, defende.
“Se ele quiser o cargo, tem esse direito, como qualquer outro camaronês. Vimos isso nos Estados Unidos, onde o Bush pai se tornou Presidente e, mais tarde, o seu filho também. Portanto, não será um problema nos Camarões. Isso é democracia, se as pessoas votarem, está bem”, conclui o historiador.
A Constituição dos Camarões estipula que se o Presidente deixar o poder de forma inoportuna, deverá ser sucedido pelo presidente do Senado.
Os Camarões tiveram apenas dois chefes de Estado desde a independência em 1961 e o atual Presidente, Paul Biya, é o segundo. Está no poder há cerca de 30 anos e alterou a Constituição, podendo o Presidente candidatar-se à reeleição sempre que quiser.