A questão da eventual negociação entre o Governo de Moçambique e os insurgentes pode criar clivagens na Frelimo, partido no poder, por ser ventilada não decurso da ofensiva militar contra o grupo que atormenta Cabo Delgado, dizem analistas.
O antigo presidente moçambicano, Joaquim Chissano, apelou ao Governo para considerar a possibilidade de diálogo com os insurgentes, assinalando que há certos tipos de terrorismo que acabaram através de negociações.
“Pode ser que apareça um líder desse grupo que nos ofereça a oportunidade de um dialogo, que conduza ao fim da violência em Cabo Delgado,” disse Chissano, popular pelas suas habilidades de negociação.
“Isso pode provocar clivagens dentro da Frelimo, porque este apelo é feito numa altura em que os terroristas estão a ser combatidos com muita determinação”, afirmou Osvaldo Caetano, membro da Frelimo.
Sem liderança oficial
Contudo, o governador provincial de Cabo Delgado, Valige Tauabo, disse que a falta de uma liderança oficial e de objectivos claros do lado dos insurgentes impossibilita o diálogo com as autoridades.
Aquele governante defendeu que as constantes transformações na génese dos grupos terroristas, que actuam na região dificultam a compreensão das suas motivações, afastando a possibilidade de diálogo.
“Isto significa que o apelo de Joaquim Chissano não teve bom acolhimento nas hostes da Frelimo e tem o potencial de provocar algumas clivagens dentro do partido, porque mesmo ao nível mais alto do Governo de Moçambique, o discurso é de que os terroristas não têm rosto”, considerou, por seu turno, o professor Inácio Alberto.
Mal entendido
Entretanto, para o jornalista Fernando Lima, as declarações do presidente Chissano foram mal entendidas, porque muitas vezes o que ele quer dizer é uma sugestão; ele tem um discurso muito redondo, e, por outro lado, as pessoas têm na cabeça que quando fala em negociações se está a sugerir o formato Roma, mas aquilo que se passa em Cabo Delgado não é de longe nem de perto este tipo de situação”.
Aquele analista considerou que as declarações de Joaquim Chissano e Valige Tauabo se complementam, porque o antigo estadista diz que as negociações falharam na Somália e na Nigéria; será que sabemos quem são, será que sabemos o que é que eles querem”.
“Se nós não acrescentarmos todos esses componentes, vamos dizer que Joaquim Chissano é a favor de negociações, mas eu acho que há um mal entendido, logo, não me parece, pelas razões que expliquei, que possa haver uma clivagem na Frelimo,” disse Lima.
Por outro lado, Lima disse existir, neste momento, uma euforia relativamente à opção militar, mas sublinha que nalgum momento, tem que haver contactos e uma resolução de como um conflito desta natureza vai acabar.