A afirmação do ministro angolano do Interior de que há uma “ofensiva armada de grupos criminosos” em Cabinda que merece atenção dos Governos de Angola e da República do Congo suscitou reacções das duas facções da guerrilha que luta pela independência do conclave, que reiteram a sua posição de continuar a lutar pela independência do território.
Sem fazer referência à Frente de Libertação do Enclave de Cabinda-Forças Armadas Cabindesas (FLEC-FAC), Eugénio Laborinho considerou, em declarações no sábado, 19, que estas acções “deixam vulnerável a segurança transfronteiriça entre os dois países”.
Numa reacção a pedido da VOA, o porta-voz da facção da liderada por Alexandre Tati diz que a organização “se felicita pelo facto de Angola vir publicamente reconhecer os ataques militares em Cabinda” e aproveita “a oportunidade para apelar ao Governo de Angola à razão”.
Xavier Puati Itula acrescenta que “todo o conflito tem um início e tem um fim e para se chegar a um fim é necessário negociar esse fim, fazer o contrário é aumentar a determinação dos oprimidos”.
Por isso, Itula conclui que “nós, a FLEC-FAC e o povo de Cabinda estamos determinados em prosseguir com as actividades militares e no terreno até que o direito do povo de Cabinda à sua autodeterminação seja reconhecido”.
Por seu lado, a outra facção, as Forcas Armadas Cabindesas (FAC), dirigida por Emmanuel Nzita, também em declarações à VOA, considera que “o reconhecimento angolano da ofensiva armada da FLEC em Cabinda é na realidade um reconhecimento da incapacidade das Forças Armadas Angolanas de ocupação e uma prova de que os angolanos não conseguem esconder os seus soldados mortos em Cabinda”.
Para o comandante Maurício Simba, os encontros de angolanos com congoleses são “pura diversão, a FLEC nunca operou, não opera e nunca irá operar nos Congos”.
“Todos os militares da FLEC-FAC estão exclusivamente nas bases da FLEC e Cabinda, a guerra é em Cabinda e não nos Congos”, garante Simba.
Na sua óptica, o Governo tem apenas uma solução “que é negociar a paz de forma séria e credível com a presença de observadores internacionais” e a FLEC “exige também que termine o clima de repressão contra a população civil em Cabinda e que termine também a acção contra os refugiados cabindas nos Congos”.
No que se refere às eleições de Agosto o comandante Maurício Simba diz que são “eleições angolanas e por isso os cabindas não devem participar nas eleições de um país estrangeiro que ocupa Cabinda”.
Em termos oficiais, as autoridades angolanas sempre negaram a existência de ataques de guerrilheiros da FLEC-FAC às posições das Forças Armadas e de um clima real de instabilidade militar na região.
O ministro Eugénio Laborinho afirmou, no entanto, que apesar das acções operativas que vêm sendo realizadas, no âmbito da prevenção e combate aos crimes transfronteiriços, a situação de segurança ao longo da fronteira comum ainda inspiram sérios cuidados, porquanto, uma vasta extensão da mesma encontra-se desprotegida, o que torna vulnerável a qualquer tipo de actos ilícitos”.