Os Estados Unidos estão pressionando a Organização Mundial da Saúde (OMS) por uma revisão de suas atitudes durante a pandemia de coronavírus — e o Brasil pode se alinhar com Washington na discussão.
Nesta segunda-feira (18), a OMS realizou de maneira virtual sua assembleia anual. Os Estados Unidos aproveitaram a ocasião para reforçar suas críticas à OMS e pedirem uma investigação da atuação do organismo. O secretário de Saúde dos EUA, Alex Azar, afirmou que a OMS “falhou em obter as informações que o mundo precisava e essa falha custou milhares de vidas”.
Entretanto o Brasil e outros 60 países apoiam o pedido de uma investigação “imparcial e independente” da resposta dada pela OMS à pandemia, afirma o site UOL.
Durante a assembleia, a OMS afirmou que a investigação começará assim que possível e o diretor-geral, Tedros Ghebreyesu, disse que a instituição “soou o alarme [sobre a pandemia] cedo, e soamos ele com frequência”. Ao anunciar o coronavírus como uma emergência global em 30 de janeiro, havia menos de 100 casos fora da China e nenhuma morte, disse o diretor-geral.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Tanguy Baghdadi, se o Brasil junto com os EUA tomar uma atitude de crítica dura em relação à OMS, será mais um episódio de “alinhamento” com as ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“O Brasil também vem embarcando em uma onda crítica à OMS. Aliás, isso faz parte de uma estratégia mais ampla do governo brasileiro que é de embarcar em críticas dos Estados Unidos às principais organizações internacionais”, diz Baghdadi à Sputnik Brasil.
Vale destacar que anteriormente o chanceler brasileiro Ernesto Araújo já tinha criticado a Organização Mundial da Saúde:
“Transferir poderes nacionais à OMS, sob o pretexto (jamais comprovado!) de que um organismo internacional centralizado é mais eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente, é apenas o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária”, escreveu em seu blog.
O analista relembra a decisão dos Estados Unidos de cortar o financiamento da OMS e a fala do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, de que Washington pode até mesmo criar uma agência própria como alternativa à OMS.
Nesta segunda, a China anunciou que doará US$ 2 bilhões, cerca de R$ 11 bilhões, para os esforços de combate à pandemia de COVID-19.
Baghdadi diz que o objetivo das ações dos Estados Unidos e da proposta de criar uma organização para substituir a OMS é “enfraquecer” a organização presidida por Tedros Ghebreyesu.
O professor da Universidade Veiga de Almeida diz que o Brasil apoiar a investigação sobre a OMS não significa automaticamente uma melhora ou piora da imagem nacional, mas ressalta que é necessário acompanhar como o Itamaraty irá se portar ao longo da discussão. Todavia, ressalta o analista, o Brasil corre risco caso escolha sempre “replicar” as posições da Casa Branca na arena internacional.
“Isso é um risco porque o Brasil acaba perdendo uma certa identidade diplomática que conseguiu construir ao longo de décadas. O ideal é que o Brasil consiga, por mais que tenha uma posição mais próxima à norte-americana, como historicamente tem, fazer uma avaliação própria de quais são os prós e contras de cada um dos cenários que aparecem pela frente.”