O artista angolano Bonga, uma voz inconfundível que leva a música africana a todos os cantos do mundo, celebra este ano 50 anos de carreira. Em entrevista à RFI, falou-nos do seu percurso musical e de como tudo começou.
Desde cedo, o artista decidiu “despir-se” do seu verdadeiro nome, José Adelino Barceló de Carvalho porque “a tónica muda, o Bonga evolui, anda por tudo o que é lado e principalmente levando consigo a sua tradição” e a “sua tradição tem mais a ver com o Bonga do que com o José Avelino Barceló de Carvalho”, salientou.
Antes de ser cantor, Bonga traçou uma carreira de sucesso no atletismo. Foi campeão de Angola e de Portugal em várias modalidades. Foi ainda campeão nacional dos 400 metros em Portugal nas décadas de 1960 e 1970.
Depois, por razões políticas, Bonga saiu de Portugal e foi para a Holanda. Foi aí que concebeu o seu primeiro disco, em 1972, intitulado “Angola 72”.
O proprietário da Morabeza Records (Djunga d’Biluca) desafiou Bonga a gravar e o artista acabou por retratar nas canções os seus “lamentos, choros e também a sua nostalgia angolana”. Segundo o cantor, foi a partir daí que tudo começou.
Na altura, o artista angolano tinha o objectivo de transmitir mensagens contra a colonização, conforme nos contou no decorrer da conversa.
“Eu acho um absurdo os estrangeiros irem mandar na terra dos outros, colherem tudo o que é de melhor e, sobretudo, discriminarem as pessoas nos seus próprios países. As mensagens eram baseadas nisso, na minha vivência dos primeiros 23 anos de vida, naquele calor escaldante de Angola”, explicou.
As obras de Bonga foram traduzidas para várias línguas e constituíram um verdadeiro sucesso em todo o mundo ao longo destes 50 anos de carreira. Para o artista, a música “é a chave” de tudo na sua vida.
O músico revelou ainda, em entrevista à RFI, que o seu próximo álbum “Quintal da Banda” retrata as vivências daquilo que é tradicional, dos encontros familiares e das memórias de tudo o que é angolano.
“Quintal foi onde aprendemos as vivências das nossas coisas tradicionais, o que é muitíssimo importante. A vivência do quintal não tem nada a ver com os apartamentos luxuosos de hoje e era ali que tudo acontecia”, recordou o cantor.
A par do novo álbum que deverá sair em breve, Bonga vai assinalar os 50 anos de carreira com inúmeras iniciativas, nomeadamente, com dois concertos em Lisboa e no Porto.
O artista vai dar um espectáculo na Altice Arena, em Lisboa, a 19 de novembro e no dia seguinte, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.