Era um mar de gente. O auditório Pepetela, no Instituto Camões, em Luanda, ficou pequeno para receber tantas pessoas que acompanhavam o lançamento da biografia escrita por José Eduardo Agualusa sobre um dos políticos mas prominentes de Angola, Abel Chivukuvuku.
“Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku” é a biografia de um político feita por um amigo. Um conterrâneo e contemporâneo que, entre “muitas estórias”, narra os acontecimentos de 1992, ocasião em que foram mortos muitos líderes da UNITA, o maior partido da oposição.
“Abandonado pelo MPLA”
Durante o lançamento falou-se muito sobre “Zé Mulato”, um personagem descrito no livro e que, segundo Abel Chivukuvuku, salvou-lhe a vida.
Também presente no evento, “Zé Mulato” sente-se hoje abandonado pelo partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
“O que o senhor Abel Chivukuvuku disse aqui é uma realidade. Infelizmente, fui ‘abandalhado’ pelo MPLA pelo que fiz, além do 27 de Maio, quando eu tinha apenas 17 anos. Eu sou um dos sobrevivntes do 27 de Maio e participei nos confrontos de 1992”, disse.
“Amigo de Deus”
Por ter escapado várias vezes da morte, Abel Chivukuvuku diz ser um “grande amigo de Deus”.
Já Marcolino Moco, ex primeiro-ministro de Angola e secretário-geral do MPLA, classifica a obra de Agualusa como “um ato de coragem”.
“Mostrou mais uma vez que é uma grande personalidade angolana, porque isso é um ato de coragem”, disse.
“Eu já li na transversal os fatos relatados de forma desassombrada. Está ali o Abel no livro, um dos protagonistas de Angola atual”, acrescentou.
Em entrevista à DW África, o ex-militante da UNITA e fundador da CASA-CE disse não ter dúvidas: o livro é uma grande contribuição sobre a história de Angola.
“É um momento de alegria e de satisfação, sobretudo de um contributo para discutirmos as nossas questões de Angola de todos terem acesso a trajetória de um cidadão como os outros”, disse.
“Muito está a ser contado”
Muito sobre a vida de Abel Chivukuvuku está a ser contado nesta obra – o prominente político angolano já pertenceu até mesmo a uma banda de rock, na província angolana do Huambo, onde o biógrafo e o biografado nasceram.
Também para o escritor Agualusa, a elaboração desta obra foi uma aprendizagem. “Eu próprio aprendi muito quando escrevi o livro e descobri muitas histórias antigas de Angola, que eu desconhecia”, relatou.
O próximo romance do escritor angolano já está a ser elaborado. Será sobre o Reino do Bailundo e tem como base as “Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku”.