Maxim Znak, político e advogado bielorrusso, foi detido esta quarta-feira de manhã por “homens encapuzados”. A detenção aconteceu dois dias depois de outra líder da oposição, Maria Kolesnikova, ter sido detida e impedida de deixar o país.
Maxim Znak era um dos últimos membros do Conselho de Coordenação da oposição na Bielorrússia que ainda estava em liberdade e foi detido durante a manhã desta quarta-feira por “homens mascarados”, segundo a imprensa local.
Fontes próximas do advogado disseram que este não compareceu para uma videoconferência.
“Maxime Znak era esperado no gabinete para participar numa videoconferência mas não apareceu. Só conseguiu enviar a mensagem: ‘mascarados'”, indicou o serviço de imprensa do grupo da oposição a que pertence através do sistema de mensagens electrónico Telegram – mensagem que incluía também uma foto do advogado no momento da detenção por homens com passa-montanhas e um indivíduo vestido à civil.
Maxim Znak, de 39 anos, é um dos sete membros da direcção do Conselho de Coordenação, organismo formado para preparar “a transição do poder” na Bielorrússia e era um dos poucos dirigentes que se encontrava ainda em liberdade porque os restantes elementos do conselho foram presos ou obrigados a fugir do país, nas últimas semanas.
A prisão do advogado ocorre um mês após o início do movimento de contestação sem precedentes na Bielorússia e que denuncia fraudes nas eleições presidenciais que renovaram o mandato de Alexander Lukashenko, que se encontra no poder desde 1994.
Líder da oposição exilada reage a detenções
Já na noite de segunda para terça-feira, a também membro do Conselho de coordenação, Maria Kolesnikova, foi levada à força na fronteira entre a Bielorrússia e a Ucrânia, acabando por ser detida.
A candidata e líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaya, exigiu, entretanto, a libertação imediata do advogado detido esta manhã.
“Exijo a libertação imediata de Maxim Znak que foi detido, ou mais precisamente sequestrado, hoje. Os métodos utilizados pelas chamadas autoridades são ultrajantes”, afirmou num comunicado.
“É claro que Lukashenko tem medo das negociações e está a tentar, dessa forma, paralisar o trabalho do Conselho de Coordenação e intimidar os seus membros. Mas não há alternativa às negociações e Lukashenko terá de aceitar isso”.
Já na terça-feira, depois de o Comité das Fronteiras Bielorrussas ter confirmado a detenção da dirigente do movimento de protesto Maria Kolesnikova – raptada na segunda-feira no centro de Minsk por vários homens mascarados, que a colocaram numa carrinha e a levaram para um destino desconhecido – Svetlana Tikhanovskaya reagiu pedindo que libertassem a colaboradora do grupo de oposição.
“Maria Kolésnikova tem de ser libertada imediatamente, assim como todos os membros do Conselho Coordenador (para a transferência pacífica do poder) e os presos políticos anteriormente detidos”, exigiu.
“Não se pode manter pessoas como reféns. Ao sequestrar pessoas em plena luz do dia, Lukashenko mostra fraqueza e medo”, acusou Tikhanovskaya.
O Conselho de Coordenação citou o advogado de Znak, Dmitry Laevsky, afirmando que o Comité de Investigação estatal abriu um processo criminal contra Maxim Zanc “por incitar acções destinadas a prejudicar a segurança nacional da República da Bielorrússia”.
A detenção desta quarta-feira ainda não foi confirmadas pelas autoridades, mas se a polícia e os serviços especiais de segurança (KGB) não o fizerem, o cenário de desaparecimento de Znak corresponde ao que tem acontecido a outros membros da oposição que foram interpelados nas últimas semanas e dias por homens não identificados.
Segundo a Reuters, há informações de que a casa do político da oposição, Viktor Babariko, estava também a ser revista e investigada esta quarta-feira.
Foram várias as figuras da oposição que foram detidas nas últimas semanas. A escritora e jornalista Svetlana Alexievitch, Prémio Nobel da Literatura, também faz parte do organismo mas, de acordo com as últimas informações, não foi detida até ao momento.
Apesar da repressão contra as manifestações e da pressão que está a ser exercida contra a oposição, a contestação continua mobilizada tendo-se realizado no domingo manifestações de protesto nas principais cidades do país.
EUA condenam tentativa do Governo bielorrusso de expulsar membros da oposição
O secretário de Estado norte-americano condenou a tentativa do Governo bielorrusso de expulsar membros da oposição, dizendo ainda que está a considerar novas sanções ao país europeu.
Mike Pompeo disse, na terça-feira, estar “profundamente preocupado com relatos de sequestro e tentativa de deportação à força de líderes da oposição na Bielorrússia”.
“Lembramos às autoridades bielorrussas que é sua responsabilidade garantir a segurança da senhora Kolesnikova e de todos os detidos injustamente”, disse Mike Pompeo, referindo-se à líder dos movimentos de protesto.
“Os Estados Unidos, em coordenação com os nossos parceiros e aliados, estão a considerar sanções direccionadas adicionais para promover a responsabilização das pessoas envolvidas em violações de direitos humanos e repressão na Bielorússia”, acrescentou Pompeo.
Recorde-se que Bielorrússia tem sido palco de várias manifestações desde o dia 9 de Agosto, quando Alexander Lukashenko conquistou um sexto mandato presidencial. Nos primeiros dias de protestos, a polícia deteve cerca de sete mil pessoas e reprimiu centenas de forma musculada, suscitando protestos internacionais e ameaça de sanções.
Os Estados Unidos, a União Europeia e diversos países vizinhos da Bielorrússia rejeitaram a recente vitória eleitoral de Lukashenko e condenaram a repressão policial, exortando Minsk a estabelecer um diálogo com a oposição.