O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, rejeitou esta sexta-feira, 28, a possibilidade de se retirar da corrida à Casa Branca, na sequência do debate de quinta-feira à noite com o candidato republicano Donald Trump, em que o desempenho do presidente foi considerado um desastre.
Falando num comício no estado da Carolina do Norte, Biden disse que vai continuar na corrida à presidência. “Estou aqui na Carolina do Norte por uma razão, porque tenciono ganhar este isto em Novembro”, disse o presidente, de 81 anos de idade, admitindo os efeitos da idade na sua mobilidade e capacidade de comunicação.
“Eu sei que não sou um jovem. Posso não andar tão depressa. Posso não falar tão suavemente. Posso não debater como antes. Mas sei como dizer a verdade. Sei distinguir o certo do errado. Sei como fazer este trabalho.”, disse o presidente.
“Sei como milhões de americanos que quando se é derrubado levantam-se”, acrescentou Biden, enquanto os seus apoiantes gritavam “mais quatro anos”.
A presença energética de Biden no comício de hoje foi um contraste claro com o que se passou no debate, em que os seus tropeços verbais e respostas sinuosas e por vezes confusas provocaram ansiedade entre os democratas, com crescentes dúvidas sobre a sua continuidade como candidato do partido democrata às eleições.
O deputado democrata, Jim McGovern, disse aos repórteres que “estaria a mentir se dissesse que foi um grande debate.” Questionado se já era hora do partido considerar outro candidato, ele respondeu: “Ainda não cheguei a nenhuma conclusão”.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom – que poderia ser uma importante alternativa democrata – rejeitou a ideia de que Biden poderia ser substituído. Já o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, outro possível substituto, exortou os democratas a pararem de se preocupar.
Contudo, um doador da campanha, que pediu o anonimato, descreveu o desempenho de Biden no debate como “desqualificador” e três analistas da pagina de opinião do influente New York Times apelaram a Biden para abandonar a corrida. Os cabeçalhos dos jornais americanos e internacionais foram, na verdade, unânimes em apontar as insuficiências de Biden.
O co-presidente da campanha de Biden, Mitch Landrieu, rejeitou de imediato essa possibilidade. “Isso não deve acontecer”, disse Landrieu. A antiga presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi também contestou a ideia.
O congressista democrata, Jim Clyburn, disse que os democratas devem acalmar-se. “Acalmem-se. Mantenham o curso”, disse Clyburn.
Pode Biden ser substituído?
A questão levantou-se logo após o debate presidencial com Donald Trump por comentadores e por vários elementos do Partido Democrata que disseram estar “em pânico”, perante o desempenho do candidato democrata.
Várias vozes internas afirmaram que apenas a primeira dama, Jill Biden, e Barack Obama poderiam efetivamente influenciar o presidente dos EUA.
O Presidente já foi designado como o candidato presidencial democrata durante as primárias realizadas entre janeiro e junho. E, se tudo de acordo com o plano inicial, Joe Biden será formalmente nomeado candidato democrata na convenção do partido em Chicago, em agosto.
Segundo as regras do Comité Nacional Democrata, não existe nenhum mecanismo através do qual os líderes do partido possam retirar Biden da corrida.
Contudo, se Joe Biden desistisse da corrida antes da convenção, a última palavra caberia aos delegados do partido, 3.900 pessoas – obtidos por Biden nas primárias deste ano -, com perfis muito variados, a maior parte das quais completamente desconhecidas do grande público. Joe Biden pode tentar influenciar os delegados apontando um nome para substituição.
Seria, então, “o tipo de convenção em que todas as apostas estão lançadas”, com cada lado a tentar fazer valer o seu candidato, prevê Elaine Kamarck, investigadora do Instituto Brookings, numa nota recente.
Um cenário mais ou menos comparável ocorreu a 31 de março de 1968, quando o Presidente Lyndon B. Johnson anunciou publicamente que não se candidataria a um segundo mandato, em plena guerra do Vietname.
E se Joe Biden desistisse entre a convenção e a eleição? O “comité nacional” do partido realizaria então uma sessão especial para nomear o candidato.
Quem pode substituir Biden?
Neste cenário imaginário coloca-se a questão: quem pode substituir Joe Biden? A vice-presidente, Kamala Harris, ou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, que tem o vento a favor entre os democratas.
No entanto, Newsom considerou que este tipo de “conversa” “não é bom para a nossa democracia”.
Os nomes da governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, e do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, também já foram abordados. Mas por agora parecem estar em suspenso.
Por João Santa Rita, Paula Alves Silva