VOA | João Marcos
Mais de 1.700 ex-operários dispensados sem indemnizações e salários, à procura de reforma, são vistos como um ‘’fardo pesado’’ para o sector da indústria na província angolana de Benguela, incapaz de solucionar o problema.
De acordo com o Sindicato da Indústria, a falência de empresas atirou para o desemprego várias centenas de cidadãos, que se queixam de falta de condições financeiras para o sustento das suas famílias.
Os casos da África Têxtil e da Lusalite e Previdente de Angola (Lupral), na Presidência da República e em tribunal, saltam à vista quando se analisa o drama dos 1775 homens despedidos de empresas que faliram há vinte e cinco anos, principalmente na indústria transformadora.
Na fábrica têxtil, agora ‘’Alassola’’, pede-se, há três meses, que o Presidente João Lourenço responda a uma carta sobre a dívida do Governo angolano, na casa dos 945 milhões de kwanzas (mais de três milhões de dólares), valor para 435 homens, sendo que os 99 falecidos são substituídos por viúvas e filhos.
‘’O senhor Presidente, que já foi comissário de Benguela, sabe que estamos a passar muito mal. Não temos nem segurança social, já muitos morreram, não podemos continuar assim’’, reclamam Baltazar Pascoal, Manuela Inácia e Rogério Cabral.
O secretário-geral do Sindicato da Indústria, Tomás Caetano, presente num recente encontro reivindicativo, desconfia da gestão dos vários departamentos ministeriais envolvidos neste processo.
‘’Não têm salários, não têm subsídio para alimentação. Portanto, não conseguem resolver os problemas sociais dos seus filhos. Porquê que o Governo central não resolve o problema?’’, questiona o sindicalista.
Em resposta a esta pergunta, a ministra da Indústria, Bernarda Martins, solicita que o grupo questione o Ministério das Finanças, que está à frente do expediente para a privatização.
Outra firma na ordem do dia, a Lupral está em tribunal devido a uma pilhagem de equipamentos, num julgamento que não passa ao lado da comissão sindical, segundo o secretário Dâmaso Paulo, em nome de cerca de 100 homens que exigem indemnizações.
‘’Os meus antigos colegas estão a passar, em condições precárias e desumanas, muitos estão sem dinheiro para tratar das doenças’’, salienta o sindicalista.
À VOA, o administrador da área comercial, Alberto Paulista, diz que o processo judicial vai determinar o pagamento da dívida.
‘’Houve um furto, por isso estamos aqui. O valor do furto vai servir para o pagamento aos trabalhadores, mas não posso falar mais’’, explica o administrador.
Confrontada também com a situação da Lupral, até porque o Governo diz que procura fomentar a produção de material de fibrocimento (telhas e tubos), pregos, enxadas, charruas e catanas, a ministra Bernarda Martins diz que é e sempre foi uma unidade privada.