Mário Lopes pratica a sua arte mesmo tempo de pandemia
Na cidade sul-africana de Cape Town, Márcio Lopes, mais conhecido por Beleza, é um angolano que tem mantido viva a arte da capoeira.
Ele ensina capoeira desde os finais dos anos de 1990.
Beleza diz que chegou à África do Sul em 1999 para estudar informática.
Manteve contacto com a capoeira pela primeira vez em Angola em 1997 e se apaixonou pela fluidez do movimento, mas foi na Cidade do Cabo onde se tornou professor.
“Quando eu vim para estudar não encontrei a capoeira, mas depois de dois anos, um brasileiro estava a fazer capoeira em casa de um indiano e ouvi o berimbau (a música de capoeira), fui la e jogamos capoeira na sala”, conta Beleza, co-fundador de Capoeira Educational Youth Association (CEYA).
O projecto foi concebido para usar as habilidades e valores da capoeira visando capacitar jovens sul-africanos desfavorecidos e, ao mesmo tempo, criar um sentido de unidade entre eles.
Antes da pandemia da Covid, Beleza vivia um período de ascensão da sua carreira e trabalhava com cerca de 100 crianças em comunidades pobres de Delft e Wynberg, bem como com alguns adultos na comunidade de Observatory.
“Foi o momento em que as pessoas começaram a reconhecer o trabalho que eu estava a fazer, principalmente com crianças. As escolas e algumas instituições educacionais gostaram do meu trabalho e algumas escolas até colocaram no currículo escolar e quem quisesse fazer a capoeira tinha disciplina da capoeira”, conta.
Os desafios da Covid-19
Desde 27 de março que Beleza viu as escolas fecharem as portas o que o impediu de levar o som do berimbau, a arte-marcial, a cultura popular e dança às comunidades pobres por causa das medidas mais restritivas para conter a disseminação da Covid-19 na África do Sul.
Beleza perdeu o seu principal meio de subsistência e foi obrigado a se reinventar dando aulas de capoeira pela internet.
“Com a Covid tudo parou, algumas escolas reabriram, mas já não voltei. Tive a sugestão de alguns pais para dar aulas online e comecei dar aulas online”, diz Beleza.
Contudo, o professor de capoeira não foi bem sucedido com as aulas online.
“Como as crianças não estavam a adaptar-se às aulas online, comecei a dar aulas ao domicílio. As aulas ao domicílio melhoraram ao ponto de alguns pais começaram a juntar duas ou três crianças num um lugar”, conta.
Os imigrantes e a pandemia
Um relatório produzido em julho pelo Instituto de Estatística da África do Sul sobre impacto social da Covid-19 revelou que mais de quatro quintos (cerca de 82%) dos migrantes entrevistados permaneceram na África do Sul, em vez de regressarem aos seus países de origem quando o confinamento foi anunciado porque consideravam a África do Sul como seu lar, enquanto 11% sentiam que a pandemia era global e que eles ainda estariam em risco.
Cinco por cento dos migrantes entrevistados indicaram que temiam que, se deixassem a África do Sul, não conseguiriam entrar novamente no país.
Os resultados mostraram ainda que, geralmente, os migrantes entrevistados eram mais vulneráveis do que os não-migrantes: 22,5% dos migrantes entrevistados estava desempregados em comparação como 9% dos locais.
Beleza fez da África do Sul o seu lar e acredita num futuro melhor pós Covid 19.
“A capoeira é resistência e esperança”, afirma o angolano.
A capoeira pode ser descrita de várias maneiras, criatividade, intuição, graça, força, história e tradição, mas também uma arte marcial afro-brasileira que combina elementos de dança, acrobacia e música.
A capoeira é praticada em forma de círculo, chamada roda, dentro da qual dois ou mais capoeiristas fazem os movimentos.
Associados a esta arte marcial, existem também instrumentos e músicas específicas que acompanham a sua prática: o pandeiro, o atabaque e o berimbau, instrumento de corda única e de origem africana.