A célebre “Batalha do Cuito Cuanavale”, um dos mais sangrentos confrontos militares da guerra pós independência angolana, ocorrida entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988, faz, neste sábado, 31 anos.
Estiveram em confronto, as ex-Forças Populares de Libertação de Angola (Fapla), Forças Revolucionárias de Cuba (FAR), a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) e o exército sul-africano.
De 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988, unidades do Batalhão Búfalo e do regimento presidencial sul-africano, auxiliados por milhares de militares da Unita, mantiveram um cerco sobre a vila do Cuito Cuanavale, para tomá-la e criar um corredor até Luanda, a fim de colocar Jonas Savimbi na presidência de Angola.
Transformada num “autêntico inferno”, na vila do Cuíto Cuanavale, as áreas residenciais e as posições das Fapla eram fustigadas intensamente com artilharia de longo alcance G-5 e G-6 (uma peça de artilharia que tem uma cadência de tiro de três minutos), bem como aviões teleguiados carregados com toneladas de explosivos.
De acordo com a história recente, as forças sul-africanas tinham também, a seu favor, um Centro de Correcção de Fogo (CCF) equipado com tecnologia de ponta, a partir do qual podiam acompanhar facilmente, com ajuda de satélite, toda a movimentação da população e das unidades das tropas governamentais, mas as Fapla respondiam como podiam.
A supremacia das Fapla residia na artilharia anti-aérea, com destaque para os lançadores de mísseis inteligentes Osaka e CD-10. Quanto à artilharia, tinham o lança foguetes múltiplos BM-21 (órgãos de Staline), os canhões C-130 milímetros e o D-30 mm.
Em aviação detinham os caças-bombardeiros Sukoy-22 e 25, assim como o Mig-23 (com a entrada em cena deste caça, a Força Aérea sul-africana perdeu a supremacia nos cèus do sul de Angola) com os quais atacavam os invasores.
A Batalha do Cuito Cuanavale tornou-se o ponto de viragem na guerra que se arrastava há anos em Angola, obrigando o regime do apartheid a promover conversações quadripartidas entre os contendores, que levaram à assinatura dos Acordos de Nova Iorque (EUA).
Tais acordos, assinados em Dezembro de 1988, na cidade de Nova Iorque, foram relevantes e deram origem à implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU, para a retirada das forças estrangeiras do conflito angolano, e, consequentemente, à independência da Namíbia em 1990 e à democratização da África do Sul, culminando com o fim do regime do Apartheid.
A partir deste ano (2019), o 23 de Março passa a ser comemorado como feriado nacional e data da libertação da África Austral.
Cerco de Cuito Cuanavale
O nome Cuito Cuanavale, um dos municípios da província do Cuando Cubango, tem origem em dos rios (Cuito e Cuanavale) que convergem nesta região. Com uma superfície de 35.610 quilómetros quadrados, o município do Cuito Cuanavale possui uma população estimada em 94 mil habitantes.
Como as forças governamentais tinham informações de que se a região do Cuito Cuanavale caísse nas mãos do adversário, as tropas da Unita e do exército sul-africano seguiriam para Menongue, capital da província do Cuando Cubango, onde estava situada uma importante base aérea do governo, então restabeleceram-se ai, retendo com dificuldade o avanço do adversário.
As três brigadas sobreviventes das Fapla barricaram-se à leste do Rio Cuito, aguentando as forças rivais durante três semanas, sem blindagem, nem artilharia para se defenderem e com escassos meios de sobrevivência.
O então Presidente de Cuba, Fidel Castro, enviou mais 15.000 soldados de elite para ajudar a batalha, dando o nome a essa movimentação de tropas de Manobra XXXI Aniversário da FAR. Com o reforço cubano, o número de tropas no país passava de 50.000. A 5 de Dezembro de 1987, o primeiro reforço militar chegou ao posto das Fapla no Cuito Cuanavale.
Entretanto, os soldados governamentais recebiam um novo treino para se adaptarem às novas armas mais avançadas fornecidas pela então União Soviética, enquanto os seus colegas das FAR preparavam as defesas para resistir às investidas do inimigo.
Os defensores cavaram trincheiras, barricadas e depósitos para helicópteros, embora a pista de aviação estivesse intacta, o reconhecimento das forças invasoras impedia a aterragem de aviões no Cuito Cuanavale. A ponte sobre o rio havia cedido a 9 de Janeiro e para o poderem atravessar, os soldados cubanos construíram uma ponte de madeira, apelidada de “Pátria ou Morte”.
Aproveitando o impasse nesta altura do conflito, as tropas sul-africanas reforçaram o seu efectivo, o que permitiu levar a cabo cinco assaltos contra os postos das Fapla nos meses seguintes, não conseguindo vencer os defensores.
No entanto, uma das situações que ajudou imenso a Unita foi a estação das chuvas que atrasou o avanço das tropas governamentais saídas de Menongue, através de caminhos lamacentos, carregados de minas anti-pessoais e de emboscadas. Quando o grosso dos reforços das Fapla chegou ao local do conflito, já tinha começado a batalha final.
Memorial homenageia heróis
Para honrar a memória de todos aqueles que lutaram na Batalha do Cuito Cuanavale, o Governo angolano construiu numa área de 3,5 hectares um conjunto de escultórico na praça memorial, designadamente o monumento dos soldados, bandeira da República, grupo escultórico e a parede dos heróis, que servem para “eternizar” a grandeza e o sacrifício dos milhares de angolanos que lutaram contra as tropas do regime do apartheid.
À entrada do município, salta à vista o monumento da bandeira postada num edifício com 55 metros de altura e mil metros quadrados de área útil, inaugurado a 19 de Setembro de 2017 pelo então Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
O imponente edifício com cerca de 35 metros de altura sob forma de pirâmide, erguido numa área total de 3,5 hectares, à entrada da sede do município do Cuito Cuanavale, simboliza a memória e a bravura dos heróis da batalha de 1988.
A infra-estrutura comporta dois pisos, um terraço e sustentada por três vigas de betão armado, que lhe conferem a forma de uma pirâmide. Está equipada com um elevador com capacidade para transportar cinco pessoas.
Logo à entrada do pátio do monumento histórico, encontra-se duas estátuas de soldados, sendo um combatente das ex-Fapla e outro cubano, com os punhos erguidos em sinal de vitória.
No mesmo perímetro, encontra-se uma biblioteca e um museu, neste último, onde estão expostas algumas das armas capturadas durante os combates e do material utilizado pelas extintas Fapla e pelas tropas cubanas.