O Banco de Fomento Angola (BFA) investigou, em Maio de 2020, as operações bancárias suspeitas identificadas numa auditoria de 2017, mas aceitou os esclarecimentos que foram dados na altura e decidiu não reabrir o processo.
Num esclarecimento enviado à Lusa sobre os motivos da renúncia do vice-presidente do BFA, António Domingues, que pediu a demissão após enviar uma carta ao regulador angolano alertando para o “incumprimento grave” das normas bancárias, o BFA salienta que “o relatório elaborado em junho de 2020 conclui essencialmente que o tema foi efectivamente tratado no ano de 2017 pela administração cessante” do banco.
Na altura a administração do BFA, face aos esclarecimentos prestados pela administradora Maria Manuela Martins Moreira, visada na auditoria interna, concluiu que não havia motivos que levassem a duvidar da sua idoneidade e decidiu-se pelo arquivamento do processo.
“Na sequência das conclusões do segundo relatório elaborado em Junho de 2020, o Conselho de Administração do BFA, em sessão realizada no dia 06 de Julho, deliberou pela não reabertura do citado processo”, refere o comunicado.
O banco considerou assim que “as suspeitas que o BFA poderia deter sobre as questões levantadas em 2017, relativas ao branqueamento de capitais, ficaram ultrapassadas com a confirmação do cumprimento por parte do BFA dos procedimentos necessários para este tipo de operações”, salienta o documento.
Opinião diferente teve o gestor português António Domingues que apresentou ao governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, as suas preocupações, através de carta, e renunciou ao cargo.
Os factos, identificados numa informação da direcção de auditoria e inspecção do BFA datada de Agosto de 2017, referem-se a duas operações bancárias realizadas num dos seus centros de investimento em que intervieram, directa e indirectamente, a responsável do centro e a administradora do pelouro (Maria Manuel Martins Moreira).
Trinta e três meses depois, em maio de 2020, a administração do BFA tomou conhecimento da informação, através do presidente da comissão executiva, António Domingues Catana, e o presidente do conselho de administração, Rui Mangueira, solicitou que fosse elaborado um relatório sobre o assunto, produzido em junho de 2020, do qual resultou a deliberação de não reabrir o processo.
O BFA tem uma maioria de capital da operadora móvel angolana Unitel (51,9%), havendo ao banco português BPI (48,1%) o restante.
Em 2019, a Unitel passou para as mãos da petrolífera estatal angolana Sonangol, afastando a empresária Isabel dos Santos do controlo da operadora.
Desse modo, a empresária, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, deixou de controlar indirectamente a gestão do BFA, culminando o processo com a nomeação do ex-ministro Rui Mangueira para presidente do conselho da administração, sucedendo a Mário Leite Silva, que renunciou ao cargo em Janeiro.
O gestor português Mário Leite Silva é um dos facilitadores portugueses dos negócios de Isabel dos Santos que envolvem esquemas financeiros suspeitos e está constituído arguido pela justiça angolana.