Decisão das autoridades de atribuir os nomes dos Presidentes do Senegal e da Nigéria a duas avenidas da capital guineense causa controvérsia. Ruas foram batizadas a 24 de setembro. Sociedade civil critica a iniciativa.
As críticas sucedem-se desde que as duas avenidas foram inauguradas com os nomes dos Presidentes do Senegal, Macky Sall, e da Nigéria, Muhammadu Buhari, no dia 24 de setembro, por ocasião das celebrações dos 47 anos da independência da Guiné-Bissau.
Cidadãos comuns e várias figuras públicas e analistas políticos questionam como é que se pode ter nomeado duas avenidas em homenagem a pessoas que não têm uma ligação histórica com a Guiné-Bissau.
O analista político Rui Landim critica particularmente que se tenha atribuído a uma avenida o nome de Macky Sall, uma vez que, a seu ver, o chefe de Estado senegalês terá contribuído para a instabilidade recente no país.
“Não há avenida Luís Cabral, Umaro Djaló, Constantino Teixeira, Nino Vieira [todos combatentes da liberdade da pátria] e tantos outros”, lembra o analista, que tece duras críticas a quem trouxe “alguém que tem tudo contra a Guiné-Bissau e é pago para ter conspirado e instigado o golpe de Estado no país. “O que Macky Sall quer”, conclui Rui Landim, é a “dominação da Guiné-Bissau pelo Senegal.”
Sissoco Embaló responde às críticas
Na última sexta-feira (25.09) o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, apresentou os seus argumentos perante as críticas da sociedade.
“O Presidente Macky Sall, depois de inaugurar a sua avenida, mandou alcatroá-la de imediato. Perguntou à empresa Arezki quanto é, disseram-lhe e mandou iniciar os trabalhos. Mas será que o Presidente Macky Sall, os seus filhos ou os senegaleses é que vão andar lá? Não somos nós?”, pergunta o chefe de Estado.
“As pessoas têm de ser inteligentes. E se você [jornalista] quer agora uma avenida, garante-me que vai alcatroá-la, vou atribuir-lhe o seu nome”, prometeu Umaro Sissoco Embaló.
Ato do Presidente revela “ilegalidade e incapacidade”
Mas o presidente do Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados (MCCI), Sana Canté, reprova os argumentos apresentados pelo chefe de Estado.
“[O ato do Presidente] revela uma dupla combinação entre a ilegalidade e a incapacidade. Ilegalidade por ser autoproclamado e golpista Presidente da República da Guiné-Bissau. O mais chocante é ver que se baseou em quem dá mais, quem tiver dinheiro para investir no país, fica com o país e quem tiver dinheiro para investir na estrada, fica com estrada”, critica Sana Canté.
Apesar do tema merecer debate nos órgãos de comunicação social, nem o Governo, nem a Assembleia Nacional Popular (ANP) reagiram à polémica.
Em silêncio estão também os partidos políticos guineenses, que, contactados pela DW África, não se quiseram pronunciar sobre a atribuição dos nomes Macky Sall e Muhammadu Buhari às duas avenidas inauguradas na semana passada.