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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Ataque à Rádio Capital FM: “A imprensa da Guiné-Bissau ficou coxa”

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FONTE:DW

É a reacção da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau. Em entrevista à DW África, o bastonário António Nhaga disse estar “bastante preocupado” com o vandalismo contra a Rádio Capital FM, neste domingo (26.07) em Bissau.

O bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau, António Nhaga, disse ainda esta segunda-feira (27.07) estar “bastante preocupado” com o estado da liberdade de expressão e de imprensa na Guiné-Bissau.

Nhaga reagia depois de as instalações e os equipamentos de emissão da Rádio Capital FM, assumidamente crítica ao regime vigente na Guiné-Bissau, terem sido vandalizados no domingo (26.07) de madrugada por homens armados desconhecidos.

Em entrevista à DW António Nhaga explica o que lhe passou pela cabeça, ao receber a triste notícia na manhã de domingo.

DW África: Como recebeu a notícia do ataque à rádio Capital FM?

António Nhaga (AN): Eu realmente não quis acreditar que alguém era capaz de concretizar as ameaças que nós sempre ouvimos dizer que estavam prestes a acontecer. Quando ouvi a notícia, de manhã cedinho, estava quase em lágrimas, a dizer que este país já não vai para a frente. De facto, não se pode privar a liberdade de expressão às pessoas.

DW África: Há quem afirme que os autores do ataque agiram a mando do Governo, acusado de querer calar as vozes mais críticas ao seu regime… Mas há também quem seja de opinião que há grupos, nomeadamente ligados ao PAIGC, interessados neste tipo de acontecimentos e ataque, precisamente para poderem continuar a acusar o Governo de estar a reprimir a liberdade de imprensa. Exclui essa última hipótese, de ter sido indivíduos ligados à própria oposição os autores deste crime?

AN: São acusações que existem neste país. Não há nada que aconteça na Guiné-Bissau que se apure para outras partes. Quando acontece alguma coisa no país, apura-se para o PAIGC ou para o lado do MADEM-G15, etc. Portanto, eu, realmente, não posso acreditar que esse Governo possa ter feito isso. Mas também não há nada que prove o contrário, não é? Mas, de facto, o país está dividido nesse aspecto. Não há nada que aconteça aqui que não se culpem um ao outro. Há quem diga que seja o próprio Governo e há quem acredita que seja o PAIGC [o autor do ataque à rádio]. Portanto, não há um dado palpável. Tudo isso para dizer: este caso agora é um caso de polícia. A Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau vai exigir ao actual ministro da Justiça, Fernando Mendonça, que também é jornalista, que ele seja responsável por esse tipo de inquérito, porque pertence à sua alçada a Polícia Judiciária (PJ). E a PJ deve agir rápido para prender os responsáveis por esse ataque.

DW África: A Rádio Capital vai ficar sem emitir nos próximos dias. O que é que isso significa para o pluralismo da comunicação social, e para os próprios profissionais, que se veem agora – temporariamente – privados de exercerem a sua profissão?

AN: Isso é como um jogador de futebol quando lesiona uma perna e não consegue jogar, não é? Ou seja, a imprensa ficou coxa, porque é uma das rádios mais ouvidas da capital. Os cidadãos buscavam informação nessa rádio. Portanto, o nosso jornalismo ficou um bocado coxo com esse ato de vandalismo. E aqui está a se conceber uma nova narrativa, que, de facto, é fazer com que o próprio jornalista tenha medo de ter acesso ao ponto de informação. Isto está a acontecer agora. Esse ato de vandalismo na Rádio Capital é uma prova desta nova narrativa para o jornalismo guineense. Ou seja, este ato ignóbil pretende que nós, jornalistas, tenhamos medo de colocar questões.

DW África: Os Estados Unidos manifestaram-se a semana passada preocupados com as “questões de liberdade de expressão” no país. Considera estas acusações acertadas, legítimas? O problema é novo e exclusivo deste Governo liderado por Nuno Nabiam? E exclusivo também deste Presidente Umaro Sissoco?

AN: Não, essa questão da liberdade de expressão já é de longa data. Os Estados Unidos da América acordaram muito tarde. Já vem de longa data, já houve perseguições a jornalistas, jornalistas espancados no campo de futebol. Portanto, não me estranha que esse ataque tenha acontecido agora. A questão da liberdade de imprensa é uma coisa que nunca houve na Guiné-Bissau.

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