Polícia faz escolta ao produto que sai da empresa portuária
Assaltos a camiões com várias toneladas de arroz, na semana passada, com a Polícia Nacional (PN) chamada a intervir, voltaram a evidenciar o cenário de penúria alimentar na província angolana de Benguela, deixando homens, mulheres e crianças em plena via rodoviária à espera dos grãos.
Indiferentes ao roubo do produto importado a granel, ocorrido na zona do 27, na estrada Benguela/Lobito, centenas de famílias procuravam recolher as sobras, numa agitação em que um jovem foi atingido por disparo efectuado por um agente policial, segundo depoimentos obtidos no local.
Na luta por algumas gramas de arroz, os perigos do movimento rodoviário na estrada nacional número 100 e dos comboios do Caminho-de-ferro de Benguela (CFB) parece que não contam.
“É mesmo muita fome que nos faz sair de casa. Havia muito arroz, mas também muito polícia. Mesmo assim, muitos não queriam saber , só queriam mesmo apanhar a comida”, disse um dos entrevistados pela VOA.
A fome de hoje faz com que os cidadãos tenham num futuro próximo uma ocasião que consideram soberana para protestos.
“Vão querer dar alguma coisa nas eleições, mas não vamos votar, desta vez não vão nos enganar. No tempo do Santos ainda comíamos, agora nada, ninguém vai votar. Os jovens e as jovens estão chateados, é melhor trocar o Presidente”, avisa outro morador do 27.
A polícia, que continua no local para e evitar novos assaltos, à semelhança das famílias, atentas aos camiões, é associada a uma postura controversa à manutenção da ordem.
“Até os polícias… eles também levaram (arroz), não têm o direito de nos bater porque isso é fome. Eles chamaram as motas para levarem, estavam a controlar e a recolher também. Uma mulher grávida foi batida, já tem sete meses”, denuncia outro munícipe.
A VOA não conseguiu obter uma reacção da Polícia Nacional.