27 C
Loanda
Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Apesar do alerta de técnicos, governo Bolsonaro insistiu na cloroquina e agora estoque de 4 milhões está encalhado

PARTILHAR

Técnicos que fazem parte de um comitê de emergência sobre o novo coronavírus alertaram, em reuniões no Ministério da Saúde, sobre o risco de o governo ficar com estoques parados de cloroquina. No início de julho, o governo federal tinha uma reserva de 4.019.500 comprimidos do medicamento–pouco abaixo do total que já havia sido distribuído, de 4.374.000 até aquele momento.

Em uma reunião no dia 25 de maio, momento em que o ministério negociava a vinda de ao menos três toneladas de insumos para serem trazidos ao Brasil para produção do medicamento, os técnicos alertaram para o risco de estoque parado.

“Devido a atual situação não é aconselhável trazer uma quantidade muito grande, pois caso o protocolo venha a mudar, podemos ficar com um número em estoque parado para prestar contas”, diz documento que registra o encontro, obtido pela reportagem.

O total parado em estoque, no entanto, poderia ser ainda maior, já que alguns estados não quiseram receber o medicamento.

“Com isso, ficou em estoque para devolução 1.456.616, estamos aguardando maiores definições para proceder ou não com o recolhimento”, aponta o registro do encontro.

O mesmo documento diz que novas distribuições de cloroquina estariam previstas entre julho e agosto, mas não traz previsão de locais ou quantidades.

Sem comprovação cientifica de eficácia para o novo coronavírus, a cloroquina é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Infectado com a doença, ele diz ter tomado o medicamento.

O histórico das reuniões dos técnicos do Ministério da Saúde também mostra que algumas mudanças nas orientações para ampliação da oferta da cloroquina foram apenas comunicadas ao comitê por alguns membros do ministério, sem que técnicos tivessem poder de decisão sobre as medidas.

No dia 9 de junho, por exemplo, representantes da secretaria de gestão do trabalho e educação em saúde apresentaram a proposta de oferta de cloroquina também para crianças e gestantes, na contramão do recomendado por parte das entidades do setor.

“Foi pontuado que os técnicos do COE fazem sugestões, mas não tem chancela administrativa sobre o documento. Ele é apresentado apenas para ciência deste COE”, informa a ata.

Dias antes, atas de reunião já orientavam que demandas sobre a cloroquina enviadas pelos municípios fossem enviadas à secretaria –a qual, na prática, não compete fazer análise de medicamentos, mas sim de organizar ações de capacitação e apoio a profissionais de saúde.

Medidas, porém, foram anunciadas apenas em junho. Em reunião, também houve uma orientação para que os dados sobre a escassez não fossem divulgados.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não comentou o teor das atas.

Sobre cloroquina, a pasta afirmou que “o uso de qualquer medicamento compete à autonomia e orientação médica, em consonância com o esclarecimento e consentimento do paciente”.

spot_img
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
spot_imgspot_img
ARTIGOS RELACIONADOS

Veja as 39 prioridades do governo Bolsonaro no Congresso Nacional para 2022

Governo Bolsonaro: Veja as 39 prioridades do Executivo no Congresso para 2022 Itens foram divulgados nesta quarta-feira (9) no Diário...

Após falha no ConecteSUS, governo Bolsonaro adia adoção de quarentena para não vacinados

Medida de instituir quarentena de 5 dias para não vacinados será adiada Antes, quarentena passaria a ser obrigatória para não...

Mais da metade da população acha governo Bolsonaro ruim ou péssimo, diz pesquisa XP/Ipespe

Governo Bolsonaro é avaliado como ruim ou péssimo por 54% das pessoas, aponta pesquisa XP/Ipespe Desde junho, mais da metade...

Críticas do arcebispo ao governo Bolsonaro refletem rejeição de católicos ao presidente

Rejeição a Bolsonaro entre católicos disparou em 2021 Descaso com as vítimas da pandemia seria um dos motivos da debandada...