NJOnline | Fernando Calueto
O ex-ministro dos Transportes, Augusto Tomás, disse esta quarta-feira, 5, no segundo dia do interrogatório do seu julgamento, que nunca se apropriou de verbas, a título pessoal, do Conselho Nacional de Carregadores CNC, e que “antes de ser ministro dos Transportes já tinha a vida organizada”.
“A acusação não corresponde à verdade. Nunca me apropriei de valores do CNC. Sou empresário do ramo imobiliário desde os anos 90, fruto de um empréstimo bancário de cerca de 60 milhões de dólares, no período de 1996 a 2003”, disse Augusto Tomás, afirmando que mostrou à PGR comprovativos dos fundos desse empréstimo.
“Eu tenho o meu património e a minha vida organizada muito antes de ser ministro dos Transportes. Sempre separei a minha vida privada da política profissional. E sempre defendi, aos meus estudantes da universidade que em Angola se pode ganhar dinheiro sem roubar”.
O ex-ministro dos Transportes salientou ainda que é proprietário de mais de quatro dezenas de imóveis, fruto de vários negócios.
Quanto aos depósitos de cerca de 4 milhões de dólares feitos em menos de duas semanas numa das suas oito contas bancárias, o agora réu respondeu que nas suas contas foram feitos vários depósitos e que está provado que qualquer destes depósitos não saiu do CNC ou do Ministério dos Transportes.
Questionado porque é que o CNC comprou casas para os seus funcionários e para os Ministérios dos Transportes, bem como uma casa para o ex-ministro, Augusto Tomás negou tal afirmação dizendo que desconhece tal facto.
Perguntado ainda por que autorizou o CNC efectuar pagamentos de salários aos funcionários do Ministério dos Transportes, respondeu que nunca autorizou tais pagamento mas que apenas autorizou o pagamento de subsídios, por se tratar de uma prática que encontrou naquele ministério.
Sobre as bolsas de estudo atribuídas pelo CNC a vários beneficiários que não pertencem àquele organismo, Augusto Tomás respondeu que não gostou do procedimento que a ex-direcção do CNC tomou, pelo facto de não ter sido informado do programa, mas como académico não se entristeceu porque as bolsas foram utilizadas por angolanos.
Augusto da Silva Tomás é a figura central do julgamento em que estão igualmente arrolados os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Bragança e Rui Manuel Moita, ex-directores-gerais adjuntos para as Finanças e para a Área Técnica do Conselho Nacional de Carregadores, Manuel António Paulo, então director-geral do CNC, e Eurico Alexandre Pereira da Silva, ex-director adjunto para a Administração e Finanças.
Os réus são acusados e pronunciados por supostos crimes de peculato, violação de normas de execução de orçamento e abuso de poder na forma continuada.
O antigo ministro dos Transportes, que se encontra em prisão preventiva desde 21 de Setembro de 2018, nega todas as acusações em que vem pronunciado no despacho do Ministério Público (MP).
Na sessão de discussão e julgamento desta quarta-feira, em que o réu foi interrogado pelo juiz e pelo MP, o colectivo de juízes, encabeçado por Joel Bernardo, suspendeu a audiência para que a mesmo prossiga amanhã, ainda com o mesmo réu.