Em Angola, celebra-se esta quinta-feira, 4 de Abril, o Dia da Paz e da Reconciliação Nacional. Entretanto, MPLA e UNITA, 17 anos depois da guerra civil, ainda discutem os caminhos para a consolidação da paz no país.
A guerra civil angolana terminou em 2002, mas o processo de paz e reconciliação nacional ainda é um longo. Esta quarta-feira, 03, em Luanda, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principais protagonistas da guerra civil, apontaram caminhos sobre o processo num debate promovido pelo projecto “Oficina do Conhecimento”.
Para Mário Pinto de Andrade, do partido no poder, o Ruanda seria um bom exemplo a seguir para a consolidação da paz angolana, uma vez que, se conseguiu erguer após o genocídio de 1994, no qual extremistas hutus levaram a cabo um massacre contra tutsis e hutus moderados, que deixou cerca de 800 mil mortos.
“O Ruanda hoje é um exemplo de estabilidade política, económica e social do continente africano e tem ganhado vários prémios. O Ruanda é um exemplo para o mundo, exemplo de reconciliação, democracia e crescimento económico”, considerou Andrade.
Mas, Marchal Dachala mostra-se reticente. O dirigente da UNITA acusa Luanda de fugir ao diálogo e defende debates fora da Assembleia Nacional. “No Ruanda dialoga-se muito, em Luanda dialoga-se pouco. Significa dizer o seguinte: queremos levar todo o nosso diálogo para o Parlamento. Eu entendo que os consensos devem ser feitos fora do Parlamento”.
Apelo
Luís Domingos é um dos jornalistas angolanos que cobriram o conflito armado. Para ele, a paz e reconciliação nacional ainda não são um facto e deixa um apelo: “A nossa paz ainda é frágil, o nosso processo de reconciliação nacional também é frágil. Precisamos conversar mais, precisamos aproximar as nossas diferenças. Temos que resolver isso o mais depressa possível”, disse o jornalista que afirma ter visto “feridos e militares a serem abandonados e sem assistência médica” durante a guerra.
A guerra civil angolana fez mais de quatro milhões de deslocados internos e milhares de vítimas mortais. Alguns presentes ao debate exigiram dos protagonistas um pedido de desculpas a sociedade.
Mário Pinto de Andrade revela que “o MPLA tem orgulho da sua história, mas não tem orgulhos dos seus erros, nem pode ter”. Segundo o Andrade, o partido no poder tem uma “palavra de ordem”: “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”.
Mas, Marchal Dachala, da UNITA quer o que chama de um verdadeiro “monumento da reconciliação nacional” e o “pedido geral de desculpa”.
“Se concordarmos em erguer um momento à reconciliação, até tenho ideias de como devia ser. No dia em que for inaugurado esse monumento, se a sociedade angolana vier a concordar, deveremos pedir perdão, um perdão geral por todos os males que aconteceram, simbolizando assim um o abrir de um novo capitulo da nossa história”, defendeu.
Avanços
O professor universitário Osvaldo Mboco, um dos mentores do debate desta quarta-feira, vê avanços no processo de paz e reconciliação nacional.
“A paz em si foi um passo significativo para a reconciliação nacional e a reconciliação nacional é um elemento que faz parte do nosso dia-a-dia, com as nossas acções e actos. Há grandes exemplos de reconciliação nacional nas Forças Armadas, no próprio Parlamento, que é o epicentro dos debates, e cada vez mais as pessoas vão se reconciliando, se aproximando”, considerou Mboco.
Mas também diz que o processo deve sair dos meandros políticos e estender-se a toda sociedade angolana. “Penso que estamos a sarar as nossas dificuldades e estamos a caminhar para uma paz que é consolidada todos os dias e para um processo de reconciliação nacional que todos nós angolanos devemos participar”.