Vários angolanos reunidos exigiram sábado (03.04) o fim da censura e diabolização da imagem do presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, em marchas que decorreram em Luanda e outras províncias de Angola.
O protesto organizado por uma organização da sociedade civil denominada Terceira Divisão visou manifestar apoio ao líder do maior partido da oposição – que tem sido alvo de debates “caluniosos” na imprensa controlada pelo Governo angolano desde que assumiu a presidência a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), em novembro de 2019.
Nos órgãos de comunicação social, cuja linha editorial cumprem alegadamente normas estabelecidas pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder há 45 anos, só se faz manchete a assuntos negativos relacionados à vida pessoal de Adalberto Costa Júnior, e de sua liderança; argumentam os críticos.
O fato levou a direção da UNITA a acusar o Governo de estar a financiar com dinheiro público campanhas de difamação contra o seu líder e, também, pelo fato do mesmo nunca ter sido convidado para uma entrevista na imprensa pública.
Marcha de apoio
Os participantes da marcha de apoio a Adalberto Costa Júnior condenaram o suposto uso do dinheiro público para o financiamento de atos difamatórios contra a oposição. O ativista Dito Dalí, um dos manifestantes, defende que o Presidente João Lourenço devia primar pelo diálogo, ao invés de “patrocinar” campanhas de difamação contra o seu adversário político.
“Não podemos permitir que o Presidente da República, João Lourenço, ao invés de discutir ideias com o cidadão Adalberto Costa Júnior, parta ao ataques e ao ‘assassinato de caráter’. Por isso, nós, os cidadãos apartidários, estamos aqui. Para prestar [a nossa] solidariedade ao Adalberto Costa Júnior, como prova de que a sociedade civil angolana está com ele”, disse Dito Dalí.
Os “média” estatais e algumas páginas nas redes sociais veiculam matérias que acusam o líder da oposição de ser pedófilo, estrangeiro e de ter falso diploma. O líder do maior partido da oposição também é acusado de estar a financiar manifestações contra a governação de João Lourenço, e outros protestos, alegadamente violentos, que poderão ser realizados no próximo ano. Alega-se que esses são para desestabilizar o país e adiar as eleições gerais de 2022.
Dito Dalí diz que estas acusações são provas de que o partido MPLA “perdeu o apoio” que anteriormente teve da população.
“O MPLA perdeu completamente o apoio da sociedade. O povo já não quer esse partido e está a apostar no Adalberto Costa Júnior, porque quer alternância de poder. Queremos que se discutam ideias sobre o país e sobre a diabolização deste cidadão. Adalberto é um cidadão, tem direito e deveres. A Constituição confere-lhe o direito participar ativamente na vida e concorrer aos altos cargos do país”, explica.
Chuva não inibe manifestantes
A chuva que começou a cair durante a caminhada não inibiu os jovens apartidários de continurem a sua marcha de apoio ao líder da oposição angolana. Na marcha, houve apelos para o voto contra o MPLA nas eleições do próximo ano. Os manifestantes exibiam cartazes com dizer “45 é muito, MPLA fora!”, “Adalberto Costa Júnior o povo está consigo”.
A marcha ficou marcada também pela detenção dos membros da organização, horas antes da caminhada. Os ativistas detidos foram soltos nas proximidades da província do Kwanza Sul, a mais de 75 quilómetros da capital angolana. Os jovens dependeram de ajuda para regressarem às suas casas.
Takbir Calielie, um dos organizadores da marcha, disse à DW África que desconhece as razões da detenção de que foi alvo e diz que a polícia só não os deixou no território do Kwanza Sul por falta de teste da Covid-19.
“Aquela é a rota do Kwanza Sul. Desconfio ser para lá que pretendiam nos deixar. Depois de muita discussão entre os agentes, nos deixaram em pontos diferentes porque eram mais de uma viatura. Não sabemos a razão da detenção, porque a manifestação aconteceu sem sobressalto”, afirmou Takbir Calielie, membro da Terceira Divisão.
Apesar do registo da detenção, a Polícia angolana não registou agressões contra os manifestantes. Kafu Sabino, um dos participantes, elogiou o trabalho da Polícia Nacional.
“Tenho que enaltecer o comportamento da polícia, pois desta vez fez uma cobertura a altura e é uma prova de que, afinal de contas, é possível fazer uma manifestação de forma elegante, com a ética apropriada, sem turbulência e desacato às autoridades. Não há razões para acusações [mútuas]. Desta vez, pode-se dizer que nem a polícia, e nem os manifestantes, vão reclamar dos excessos da polícia”.