O mercado petrolífero continua anémico, atento às informações sobre a oferta e procura. A poucos dias da próxima reunião da OPEP, em 26 de novembro, para discutir as políticas sectoriais, os mercados estão atentos à possibilidade de a Arabia Saudita estender o seu corte voluntário de produção de 1 milhão de barris por dia até ao próximo ano e se as quotas de produção decididas na reunião de junho entrarão em vigor em janeiro de 2024.
Em setembro, o petróleo ultrapassou a faixa dos 90 dólares por barril e parecia prestes a atingir a meta de 100 dólares por barril, o que muitos analistas previam que aconteceria antes do final do ano. O Brent subiu acima dos 97 dólares por barril, à medida que a Arábia Saudita e a Rússia impunham cortes na oferta de petróleo e o outono e o inverno se aproximavam com perspetivas de um aumento na procura no hemisfério norte, esgotando as reservas globais de petróleo.
Após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, que ameaçou arrastar o Médio Oriente para um conflito regional e pôr em perigo os embarques de petróleo da região, muitos analistas deram como certo um aumento significativo no preço do petróleo acima dos 100 dólares por barril.
Mas esta nova dimensão geopolítica não se refletiu nos preços do petróleo porque, embora os países árabes tenham manifestado o seu apoio à causa palestiniana e condenado a crise humanitária que se abateu sobre a população de Gaza, nenhum país árabe, nem mesmo o Irão, se envolveu no conflito.
A menos que algo inesperado transforme a crise no Médio Oriente num conflito mais amplo, envolvendo países árabes, ou que surja outra crise, o mercado petrolífero está condicionado pela lei da oferta e da procura. O preço do petróleo Brent oscilou hoje à volta de 82 dólares o barril.
Outro elemento importante a ter em conta é o facto de a reunião da OPEP ter lugar dois dias antes da abertura oficial da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima COP28, em 28 de novembro no Dubai. O que será discutido na COP28 em relação aos combustíveis fósseis terá repercussões no mercado petrolífero a médio prazo.
Embora a OPEP continue a ser um cartel poderoso, ela já não tem o mesmo poder que tinha há alguns anos para influenciar o curso do mercado petrolífero. A oferta de petróleo aumentou através de profundas mudanças no mercado.
Os Estados Unidos tornaram-se o maior produtor mundial de petróleo graças às novas tecnologias que permitem a extração de petróleo de xisto em larga escala.
O Brasil pretende tornar-se o quarto maior produtor de petróleo do mundo antes do final da década e novos produtores de petróleo estão a surgir no mercado fora do círculo da OPEP.
Isto significa que a produção de petróleo fora dos países membros da OPEP está a aumentar, diminuindo assim a capacidade do cartel de condicionar o mercado através de cortes de produção.
Do lado da demanda, embora a procura de petróleo continue robusta, espera-se que atinja o pico no final desta década, à medida que as energias renováveis se consolidarem, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
As perspetivas de médio prazo sobre a procura de petróleo também deverão ser fortemente influenciadas pela COP28, que deverá decidir se os combustíveis fósseis poderão fazer parte da matriz energética do futuro, graças às tecnologias de captura de carbono, ou se deverão ser gradualmente eliminados.
Neste contexto, a OPEP enfrenta um dilema difícil: gerir a produção do cartel para influenciar o preço de mercado num contexto em que controla cada vez menos a oferta global e redistribuir as quotas de produção entre os países membros do cartel quando a procura global está a atingir o ponto de inflexão.
Na reunião de 26 de novembro, espera-se que a Arábia Saudita anuncie a extensão do seu corte voluntário de 1 milhão de barris por dia por mais alguns meses, como medida para conter a oferta do grupo. Espera-se que outros membros da OPEP, como o Iraque, o Cazaquistão e o Gabão, que produzem acima das respetivas quotas, reduzam a sua produção se lhes for solicitado que cumpram os limites das quotas.
Mas estas medidas não irão alterar substancialmente a produção do grupo e não terão um forte impacto nos mercados, uma vez que a Arábia Saudita está a cortar a sua produção há alguns meses e os mercados já incorporaram esta informação nos preços. Além disso, esta posição tem sido dispendiosa para a Arábia Saudita, que viu as receitas do petróleo diminuírem, afetando o crescimento económico e o défice público.
Relativamente às quotas de produção, no âmbito do acordo alcançado no verão, as quotas de 2024 para os membros africanos Angola, Congo e Nigéria foram revistas em baixa, uma vez que a produção destes países estava muito abaixo das quotas que lhes foram atribuídas, e, em contrapartida, as cotas dos Emirados Árabes Unidos foram aumentadas.
As novas quotas estão sujeitas a uma revisão da capacidade de produção de cada país por consultores externos, o que significa que poderão mudar novamente antes de entrarem em vigor em janeiro de 2024.
No que diz respeito à revisão da capacidade de produção, Angola encontra-se numa posição delicada. Em outubro, a Nigéria produziu cerca de 36.000 barris por dia a mais do que a sua nova meta e, portanto, pode ter motivos para uma revisão em alta. Angola, pelo contrário, é o único país do grupo que teve dificuldades em produzir de acordo com a quota, arriscando ter de aceitar a quota decidida em junho, ou mesmo, uma nova revisão em baixa da sua quota.
Como já tivemos oportunidade de escrever, África foi humilhada na Conferência da OPEP, em junho, pela forma como os países africanos tiveram conhecimento das reduções das suas quotas. Eles foram notificados da decisão num quarto de hotel pelo representante da Arabia Saudita, sem discussão prévia do grupo. É importante que a reunião de 26 de novembro não resulte num novo revés para os países africanos.
É certo que Angola conseguirá sempre fazer valer os investimentos no petróleo feitos recentemente como garantia de um aumento da capacidade de produção nos próximos anos. Mas isto só deverá produzir resultados dentro de dois anos.
Mas para além das questões técnicas relacionadas com a capacidade de produção, Angola deve adotar uma estratégia mais abrangente nas suas relações com outros membros do grupo.
A própria OPEP já não é apenas um cartel de produção. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos utilizam o seu posicionamento de liderança no seio da OPEP para fazer avançar as agendas de diversificação das suas economias.
Pela primeira vez, a OPEP estará presente na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima COP28.
Angola deve militar dentro da OPEP, juntamente com outros membros, por uma nova visão que integre a ação climática e a necessidade do grupo de apoiar os seus membros neste processo. Isto requer uma discussão concertada para assumir uma posição coordenada que a OPEP deverá apresentar na COP 28 sobre duas questões fundamentais para o grupo: a posição dos combustíveis fósseis na matriz energética do futuro e a transição para as energias renováveis.
Portanto, é do interesse da OPEP manter uma forte coesão do grupo, evitando enfraquecer os países africanos membros da organização, num momento em que África tem um papel importante a desempenhar nas discussões sobre a transição climática.
Por José Correia Nunes
Director Executivo Portal de Angola