Um inquérito da rede de sondagens Afrobarometer, apresentado em Washington, num evento da Carnegie Endowment for International Peace, concluiu que Angola é o país com menos apoio à democracia, numa lista encabeçada por Etiópia e Senegal, que incluiu também Cabo Verde e Moçambique.
Joseph Asunka, CEO e diretor executivo da rede de sondagens Afrobarometer, declarou que “o apoio popular aos regimes democráticos permanece muito robusto em África”, já que o número médio dos que preferem a democracia a qualquer outra forma de governação nunca é menor do que sete em cada 10 cidadãos africanos.
Os inquiridos podiam escolher entre três afirmações: “A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo”, “em algumas circunstâncias, um governo não democrático pode ser preferível” ou “para mim o tipo de governo não importa”.
O inquérito foi conduzido em 34 países, de forma presencial, com entre 1.200 a 2.400 participantes em cada país, escolhidos aleatoriamente, mas com representação proporcional de cada grupo populacional.
Segundo os dados, Angola foi o país onde menos pessoas se identificaram com a primeira afirmação, considerando a democracia ser a melhor forma de governação, com apenas 37% das respostas.
Em Moçambique, o antepenúltimo da lista, 49% dos inquiridos eram a favor da democracia em todos os casos.
Os países onde praticamente 90% dos inquiridos se identificaram com a democracia como “preferível” foram Etiópia, Senegal e Serra Leoa.
Cabo Verde também se classificou no topo, com 79% da população a defender democracia em qualquer caso.
“Entendemos que nalguns países existem deslizes”, disse Joseph Asunka, acrescentando que Angola foi o último país a ser incluído na rede da Afrobarometer, que agora faz sondagens em 35 países africanos através de parceiros que conduzem os inquéritos na língua nacional e de forma adequada para os costumes de cada país.
“Conduzimos pela primeira vez este inquérito em Angola e vimos que não é uma maioria que expressa apoio à democracia. Angola está no fim da lista, assim como África do Sul”, disse Joseph Asunka.
Para o responsável, o fraco resultado no caso de Angola “tem a ver com incerteza e relutância da parte das pessoas em responder” ao novo inquérito.
O caso da África do Sul, no penúltimo lugar, porém, “é muito preocupante”, porque se trata de um país onde a população já está acostumada às sondagens, sendo um dos 12 países onde o Afrobarometer foi iniciado em 1999.
“Há 10 anos, na África do Sul, 70% dos inquiridos apoiavam a democracia, um número que caiu para 40%. É muito preocupante para todos nós”, declarou o especialista em política africana.
No entanto, acrescentou Asunka, “o apoio à democracia não é apenas sobre a expressão inequívoca dessa afirmação, mas também a rejeição de outras formas de governo”.
Assim, no passo seguinte, contou-se a percentagem de inquiridos que “desaprovam” ou “rejeitam completamente” que as eleições incluam um único partido político, que as Forças Armadas tomem o poder ou que as eleições e legislatura nacional sejam abolidas para o Presidente tomar as decisões.
“De uma maneira universal, consistentemente, vemos que os africanos rejeitam completamente estas formas alternativas de governo. Isso dá-nos confiança não só que apoiam a democracia, mas que não querem nenhuma forma de governo autoritário”, afirmou o antigo gestor do portfólio de financiamentos para iniciativas africanas na fundação William and Flora Hewlett.
A nível global, 74% dos inquiridos em 34 países rejeitam a governação militar, 77% rejeitam o regime unipartidário e 82% desaprovam a governação por uma só pessoa.
Em Cabo Verde, 80% rejeitam a governação militar, número que passa para 60% em Angola e 59% em Moçambique.