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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

ANC perde sua maioria histórica no Parlamento sul-africano e busca coligações

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FONTE:AFP

O Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde o fim do regime de segregação racial do apartheid e a eleição de Nelson Mandela em 1994, perdeu pela primeira vez a sua maioria absoluta no Parlamento e terá que procurar alianças para continuar governando a África do Sul.

Com mais de 99,85% dos votos apurados, o ANC, liderado pelo atual presidente Cyril Ramaphosa, obteve 40,21% dos votos nas eleições legislativas de quarta-feira, uma queda considerável diante dos 57,5% obtidos em 2019, segundo dados oficiais divulgados neste sábado (1º).

Este é o pior resultado para o partido que chegou ao poder em 1994 com o emblemático líder da luta contra o apartheid Nelson Mandela e que governa com maioria absoluta desde então.

“Temos conversado com todos, mesmo antes das eleições”, disse na sexta-feira a vice-secretária-geral do ANC, Nomvula Mokonyane, afirmando que o órgão de decisão do partido definiria o rumo a ser seguido após o anúncio dos resultados finais.

“Tudo deve ser baseado em princípios e não em um ato de desespero”, acrescentou, referindo-se à busca de futuros parceiros para governar este país com grandes minas de ouro, platina e diamantes.

Em segundo lugar, com 21,81% dos votos, está a Aliança Democrática, neoliberal, que carrega a imagem de um partido da minoria branca.

É seguida, com 14,5%, pelo partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há apenas seis meses pelo ex-chefe do ANC e ex-presidente Jacob Zuma, que foi a grande surpresa nestas eleições.

Em quarto lugar está a esquerda radical Fighters for Economic Freedom (EFF), com 9,48%.

– Reclamações –

Zuma colocou em dúvida o resultado e pediu às autoridades que se abstenham de validar os números.

“Se isso acontecer, estarão nos provocando”, declarou Zuma, de 82 anos, em entrevista coletiva, após citar temas “sérios” que não detalhou.

O porta-voz de seu partido disse que a formação solicitou uma recontagem de votos.

O presidente da Comissão Eleitoral, Mosotho Moepya, garantiu que o órgão vai revisar “tudo o que está diante de nós” e que ordenou recontagens em 24 instâncias.

“A comissão está pronta para anunciar o resultado das eleições” no domingo, acrescentou.

Os 400 deputados da nova legislatura devem eleger este mês o novo chefe de Estado do país, que faz parte do grupo de países emergentes Brics (juntamente com Brasil, Rússia, Índia e China).

Os cinco líderes que se sucederam desde 1994 pertenciam ao ANC.

Se Ramaphosa, de 71 anos, quiser permanecer à frente do país, terá de decidir se procura aliados à direita ou à esquerda do espectro político.

Uma aliança com a DA, liderada pelo político branco John Steenhuisen, poderia encontrar resistência dentro do ANC. O seu programa, que apoia o mercado livre e o fim dos programas de empoderamento econômico para a população negra, está no extremo oposto do partido no poder.

“As negociações entre as partes ainda não começaram, mas foram abertos canais, conversas cara a cara”, disse à AFP Helen Zille, membro do comitê diretor da DA.

O neto de Mandela, Mandla Mandela, deputado do ANC, destacou que a DA tinha “ideais diferentes” que complicavam uma aliança e que era mais provável que colaborasse com a EFF ou MK. No entanto, estas opções também poderiam provocar rejeição nos setores mais moderados do ANC.

Para a analista Susan Booysen, as exigências da EFF de Julius Malema, um ex-militante do ANC, são vistas como “muito erráticas” e “imprevisíveis”.

“Não estamos desesperados e não cederemos às nossas exigências ou aos nossos princípios”, declarou Malema em uma coletiva de imprensa neste sábado.

Uma reaproximação entre Ramaphosa e Zuma, que teve que renunciar à presidência em 2018 devido a acusações de corrupção, também não parece fácil.

O ANC mantém a lealdade de muitos eleitores pelo seu papel de liderança na derrubada do regime de segregação racial. Mas para muitos eleitores, o partido que durante muito tempo encarnou o sonho do acesso à educação, à moradia e a outros serviços básicos não cumpriu com suas promessas.

A queda é explicada, segundo analistas, pelo aumento da criminalidade, da pobreza e da desigualdade, em um país com desemprego em 32,9%, uma das taxas mais altas do mundo.

A vida cotidiana também se vê afetada por cortes frequentes de água e eletricidade.

Além disso, os casos de corrupção envolvendo autoridades do partido também minaram a confiança já gravemente prejudicada.

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