A ex-eurodeputada criticou este domingo como “lamentável” e um “vaudeville” o facto de ter sido o primeiro-ministro António Costa a pré-anunciar a recandidatura de Marcelo Rebelo Rebelo de Sousa à Presidência da República. O PS devia ter o seu próprio candidato, pois uma “candidatura do regime” vai “polarizar a sociedade e facilitar a vida aos extremos”, alertou.
Ana Gomes admitiu este domingo candidatar-se à Presidência da República, dizendo que a forma como o primeiro-ministro, António Costa, pré-anunciou a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a um novo mandato “devia preocupar todos os democratas”, pois uma ‘candidatura do regime’ iria facilitar a vida aos extremos no espectro político.
No espaço habitual de comentário na SIC Notícias, a ex-eurodeputada foi questionado sobre as palavras de António Costa, durante uma visita em conjunto com o Presidente da República à fábrica da Autoeuropa na semana passada, e que sinalizaram o apoio do Partido Socialista a uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Belém.
“Esse episódio é absolutamente lamentável e deprimente mesmo”, explicou Ana Gomes. “Nunca se viu o lançamento da recandidatura do Presidente da República ser anunciado numa fábrca de automóveis, por alguém que não estava sequer na qualidade de dirigente partidário, mas na qualidade de Primeiro-Ministro, e num contexto em que o PR tinha acabado de se ingerir de forma bastante criticável nos assuntos internos do Governo”.
Para a socialista, “isto mudou muita coisa, para dar muito preocupação aos democratas no nosso país”.
Recordou que a democracia não está suspensa, “disse e bem o PM na declaração do estado de emergênci, maas parece que está suspensa no PS”, criticando também como “levianas e paternalistas” as palavras de Carlos César, presidente do PS, sobre o facto de o partido poder organizar o congresso nacional após as eleições presidenciais.
“Do meu ponto de vista isto é grave e faz nos refletir”, disse a eurodeputada. “Um candidato do regime, que é no fundo o que é hoje Marcelo Rebelo de Sousa, vai polarizar a sociedade, vai fazer o jogo e facilitar a vida dos extremos, e num momento em que temos aí a extrema-direita organizada, não só cá, mas internacional”.
“Isto é tão grave que eu, que tenho dito que o PS devia ter um candidato próprio e também disse que não sou candidata, mas acho que neste momento todos de refletir. Todos os democratas temos de refletir nas implicações do que se passou”, sublinhou. “Admito refletir, e acho que todos os democratas tem de refletir”
Questionada se o propósito de tranquilizar a democracia poderia servir de rampa de lançamento para uma candidatura, Ana Gomes respondeu: não sou candidata e não tenho a ambição de ser candidata, mas acho que o que se passou é tão grave, tem tantas implicações para a democracia, fico muito preocupada pelo meu partido e pela democracia.
“E acho que muitos por portugueses estão preocupados, do centro-esquerda, da esquerda, e da própria direita democrática, porque isto também tem repercussões para o PSD”, concluiu.