A diplomata e ex-eurodeputada socialista Ana Gomes confirmou esta terça-feira vai ser candidata a Presidente da República e que a sua candidatura será publicamente apresentada na próxima quinta-feira. Reagindo ao anúncio da militante do Partido Socialista, o presidente do Chega e anunciado candidato presidencial, André Ventura, definiu Ana Gomes como “a candidata cigana”.
Depois de uma “reflexão”, Ana Gomes tomou a decisão e vai entrar na corrida à Presidência da República.
“Serei candidata”, anunciou a diplomata.
A notícia foi avançada pelo jornal Público esta terça-feira, que adianta que a ex-eurodeputada reserva mais declarações e a explicitação dos motivos inerente à sua candidatura para o dia da apresentação. A candidatura vai ser oficialmente apresentada esta quinta-feira pela 16h00, na Casa da Imprensa, em Lisboa.
A militante do Partido Socialista e ex-eurodeputada está na corrida a Belém, tendo como opositores, por enquanto, André Ventura do Chega e a eurodeputada do Bloco de Esquerda, Marisa Matias. Marcelo Rebelo de Sousa ainda não confirmou se irá recandidatar-se ao cargo que ocupa actualmente.
Ao Público, Ana Gomes afirmou que, antes desta decisão, teve vários encontros em que “defendeu a importância fundamental que uma eleição presidencial tem para o debate político, mais ainda actualmente quando surgem projectos políticos de extrema-direita com candidaturas a Belém, como é o caso do Chega, com André Ventura.
No domingo, no espaço de comentário que tem na SIC Notícias, Ana Gomes disse que até ao final desta semana iria decidir sobre a sua candidatura a Presidente da República, afirmando estar então na fase final da sua reflexão.
A ex-eurodeputada socialista colocou pela primeira vez como hipótese entrar na corrida a Belém no passado dia 17 de maio, nesse espaço de comentário, dizendo que iria reflectir sobre esse passo, embora não ambicionasse ser candidata.
Segundo Ana Gomes o que se passara dias antes entre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, na fábrica da Volkswagen Autoeuropa, em Palmela, tinha mudado “muita coisa”.
Nessa visita, António Costa manifestou a expectativa de regressar àquela fábrica com o actual Presidente da República, já num segundo mandato, dando como certa a sua recandidatura e reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
No entender de Ana Gomes, esse episódio foi “absolutamente lamentável, deprimente mesmo” e “perigoso para a democracia”, devendo provocar “uma reflexão” da sua parte e de todos os democratas, porque “de facto mudou muita coisa”.
De acordo com a publicação, a diplomata considera “um erro” o PS não ter um candidato próprio e “nunca quis uma candidatura que dividisse o partido”.
Contudo, “a partir do momento em que [António] Costa e outros socialistas apoiaram, ainda que indirectamente, uma eventual recandidatura de Marcelo [Rebelo de Sousa], achou que a sua voz de esquerda podia ser útil para o debate”.
Enquanto militante socialista, Ana Gomes criticou António Costa por ter assumido uma posição sobre as presidenciais quando “não estava na qualidade sequer de dirigente partidário, mas na qualidade de primeiro-ministro” e observou que “a democracia não está suspensa”, mas “parece que alguns pensam que está suspensa no PS”.
Ana Gomes começou desde essa altura a ter encontros com possíveis apoiantes, no PS e não só, um processo que foi interrompido em meados de Julho, devido à morte do seu marido, o embaixador António Franco.
“Estava a fazer essa reflexão em conjunto com o meu marido, quando ele adoeceu e faleceu. Tive de continuar essa reflexão noutras condições, sozinha”, explicou no final de Agosto na SIC Notícias.
Apoiantes divididos dentro do PS
Dentro do PS, a candidatura de Ana Gomes recebeu já o apoio do antigo líder parlamentar e ex-eurodeputado socialista Francisco Assis, e do líder da tendência minoritária dentro da Comissão Política do PS, Daniel Adrião. Também fora do partido já tem apoiantes como Ricardo Sá Fernandes, dirigente do Livre, e o professor universitário Nuno Garoupa.
Entre as vozes contra esta candidatura é citada a de Carlos César, presidente do PS, que afirmou que “só numa situação limite votaria em Ana Gomes”,
Em recente entrevista ao jornal Expresso, o primeiro-ministro considerou que se Marcelo Rebelo de Sousa não se recandidatasse a Presidente da República “havia um problema grave no conjunto do país” que, no seu entender, tem por certo que concorra a um segundo mandato do actual chefe de Estado.
Na mesma entrevista, adiantou que, por exercer as funções de primeiro-ministro, adoptará uma atitude de “recato” nas próximas eleições presidenciais.
Já sobre a forma como o PS vai gerir o processo das próximas eleições presidenciais, o secretário-geral socialista disse que haverá um momento em que os órgãos do seu partido se irão pronunciar sobre essa matéria.
“Sendo eu também primeiro-ministro, seja a pessoa que menos interfira nesse debate, porque terei de ter com o próximo Presidente uma relação institucional. Não vou interferir muito nessa campanha eleitoral”, avisou.
Na perspectiva de António Costa, um primeiro-ministro em exercício, em período de eleições presidenciais, “deve manter recato”.
André Ventura reage a candidatura
O reeleito presidente do Chega e anunciado candidato presidencial, André Ventura, já reagiu ao anúncio de candidatura de Ana Gomes, referindo-se à ex-diplomata como “a candidata cigana”.
“Numa certa metáfora, Ana Gomes é a candidata cigana destas Presidenciais. Eu sou o português comum”, disse Ventura, em declarações à agência Lusa.
Para Ventura, a ex-eurodeputada socialista “não chegará à segunda volta” das eleições para chefe de Estado.
“Disputarei a segunda volta com Marcelo Rebelo de Sousa e será a segunda volta mais espectacular da nossa história democrática”, afirmou o dirigente do Chega.
“Só os mais ingénuos acreditavam na reflexão e nos períodos de meditação prolongada. Ainda bem que Ana Gomes avança”, continuou, acrescentando que a também candidata “é a representante fiel das minorias que não trabalham e dos coitadinhos que clamam o racismo dos portugueses”.
“É o absoluto contrário da minha candidatura, que reúne os portugueses comuns”, declarou André Ventura.
“Ana Gomes candidata-se contra António Costa e contra mim. Eu candidato-me contra o sistema que destrói a vida aos portugueses”, concluiu André Ventura.
André Ventura, que foi reeleito no sábado presidente da Direcção Nacional do Chega, como candidato único, com 99,1% dos votos, anunciou que vai começar “uma nova fase” do partido, o qual vaticina ir-se tornar a terceira força política portuguesa nas próximas eleições legislativas [2023, se a actual legislatura for cumprida].
O Chega vai eleger os restantes novos órgãos sociais na sua II Convenção Nacional, marcada para os dias 19 e 20, em Évora.