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    ALLENDE E A ESQUERDA | Sobre a Urgente Revolução Cultural em Angola

    Francisco Pacavira (Foto: Francisco Pacavira)
    Francisco Pacavira (Foto: Francisco Pacavira)

    Iluminador e sempre actual. Trago em apêndice o link de um discurso de Salvador Allende feito em 1972 na Universidade de Guadalajara, México. Allende foi um homem de grande cultura política e fez-se amar pelo alto senso de equidade social. Quem tiver tempo, aconselho vivamente a visão do vídeo. Quem puder reflicta, por amor da cultura, sobre os temas em análise.

    Sobre os jovens, Allende dizia: “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética.” O Papa Francisco, durante a JMJ|Rio 2013, exprimiu um conceito idêntico, quando dirigindo-se aos jovens os incentivou a empenharem-se, inclusive na arena política, a fim de realizarem as necessárias mudanças positivas em próprias sociedades. Dois homens diversos, não obstante o continente, cujo o elemento cultural humanista os contra distingue. É a cultura o coração de qualquer mudança. Quem controla a cultura, controla o futuro da sociedade, no bem e no mal.

    ANGOLA HOJE

    Uma breve análise da actual fase do desenvolvimento sócio económico angolano, suscitou-me várias reacções, entre as quais, a necessidade imperiosa da teorização de linhas mestras para uma “Revolução Cultural” em Angola. É isso mesmo, uma “Revolução”, com o maior peso e benefício possível, não obstante as inevitáveis consequências. Urge, para Angola, um processo lento e longo (integral), mas claro nos objectivos e práticas sócio culturais acessíveis para todos os níveis do viver social. Revolução Cultura Angolana “RCA” no sentido de instaurar/iniciar um processo análise profunda dos modos de pensar, de viver e construir o presente, tendo em vista a elaboração de uma corrente de pensamentos “moderna” que espelhe o desenho de Angola que queremos para os nossos filhos.

    Revolução cultural, porque é historicamente demonstrado que o verdadeiro desenvolvimento de um país passa, antes de tudo, pela valorização das próprias raízes culturais; segue-se uma analise dos seus pontos fortes e fracos, de modos a reforçar-lhes em chave moderna, isto é amalgamar-lhes com as novas práticas culturais elencadas segundo virtudes, tendo em vista a realização de altas metas previamente elaboradas. Sem cultura não existe um futuro sustentável. A perda da cultura faz com que os “óbitos e funerais” se tornem em lugares de “passagem de modelas”. A perda ou deturpação das principais raízes culturais condiciona seriamente inclusivo o funcionamento do aparelho estatal.

    GUERRA E O ATRASO “CULTURAL”

    Os angolanos conquistaram a independência e assumiram o Governo do país, numa fase na qual, a maior parte da população era analfabeta. Logo depois, começou a luta pela soberania e integridade nacional, o que fez que com que os programas de alfabetização não tivessem bom fim. Após a sangrenta guerra dos anos Noventa, alcançamos a paz, e hoje, enquanto trabalhamos para desenvolver Angola, nos deparamos com as consequências profundas dos anos da guerra: escaço conhecimento de quem somos, de onde viemos, factores que deturpam a nossa visão na resposta do “para onde vamos”, e “como vamos?” Temos os programas elaborados pelo Governo, para curto e longo prazo, mas certos líderes comunitários e distintos políticos não conseguem inspirar o povo a seguir-lhes.

    Angola dos nossas dias pede a “gran voz” um empenho não episódico nas questões culturais. Temas que pervadem seja a cultura, como a religião. Seja a política como a economia. Numa recente palestra em Roma, referindo-me a Paulo Freire, citei a nostalgia das Comunidades Educativas que fomos nós em tempos idos, “quando todos os adultos se sentiam responsáveis pela educação dos mais novos, pelo bem estar da comunidade”. A título de exemplo: ninguém fumava em qualquer lugar, ninguém fazia confusão onde poderia ser visto por um vizinho de idade maior. Grandes tempos.

    Usamos o termo Cultura em senso lato: desde as práticas culturais tradicionais, típicas de cada etnia, as ciências humanísticas, técnicas e científicas dos últimos anos.

    QUAL CULTURA PARA ANGOLA

    Em muitos ambientes africanos, os angolanos são vistos como ocidentais, e de facto, chegamos mesmo a “gabar-nos” de tal “legado” colonial. Cada país vive com peso da própria história. Pese embora esta imagem, “categoricamente” negativa, visto que somos africanos e deveríamos nos orgulhar de sê-lo, pouco ou nada fizemos até ao momento para melhor entendermos esta questão.

    Ainda sobre certos comportamentos nefastos frutos da deturpação colonialista e dos anos desestruturantes da guerra: os angolanos são mais pela forma do que pela substância. Primamos pela imagem e visibilidade como nenhum outro povo africano. A título de exemplo: conseguimos adquerir automóveis com preços superiores a 500.000 dólares, mas declaramos pobreza nas iniciativas de solidariedade. Existem mais carros “súper luxuosos” em Luanda, do que em Roma. Todavia as riquezas de Roma superam aquelas de Angola inteira. Não é pseudo-moral, é uma triste constatação.

    Caríssimos amigos e estimadas amigas: em termos culturais, o que queremos para os angolanos de hoje e de amanha? Passados que foram dez anos desde que conquistamos a paz, quais “projectos” estão em realização em vista de melhor conhecermos e valorizarmos as nossas raízes culturais? Para quando, efectivamente, teremos as línguas nacionais nas escolas? Tudo parece tão simples, mas no fundo, é bem mais complexo.

    O dado de facto: urge uma meça em prática do “Havemos de voltar” do saudoso Presidente Dr. António Agostinho Neto. Da compactez das raízes depende a saúde de uma planta. MAS NÓS, quem somos realmente? Existe uma consciência angolana? Quais são os valores principais de um angolano? Nas grandes cidades, onde aprender as nossas práticas culturais ancestrais?

    Por Francisco Pacavira

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    1 COMENTÁRIO

    1. A cultura, a cultura. Essa disciplina muitas vezes esquecida nos discursos da nossa praça política.Só com um povo culto, um povo instruido se pôdem construir grandes Nações.Em Angola, têm que hav er mais debates de cariz intelectual, uma das vertentes culturais, para que a Sociedade começe a andar no bom sentido.A arrogância, a falta de humildade nos gestos e nas acções assim como o prepotência do nosso dia a dia, sem dúvida; São a manifestação mais flagrante da nossa (in)cultura,.

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