A Chanceler alemã pede que se prossiga com as negociações com os talibans de forma a preservar o que foi feito nos últimos 20 anos no Afeganistão. Entretanto, a China já adiantou que estabeleceu “consultas abertas e eficazes com os talibãs”, após uma reunião entre representantes do movimento e o embaixador de Pequim em Cabul.
A Alemanha, através da chanceler Angela Merkel, já anunciou que continuará a apoiar nos afegãos após a retirada das tropas alemãs e norte-americanas de Cabul, mais concretamente, da área militar do aeroporto internacional Hamid Karzai.
Falando na câmara baixa do parlamento alemão (Bundestag), a chanceler defendeu que “se deve preservar o máximo possível o que alcançamos, em termos de mudanças, no Afeganistão, nos últimos 20 anos”. E como mudanças citou a melhoria do acesso à necessidades básicas como água (70% da população) ou electricidade (90% da população), bem como a melhoria dos cuidados de saúde prestados.
Os talibans são uma nova realidade no Afeganistão, “amarga” disse Merkel, “mas devemos chegar a um acordo com eles”, acrescentou a chanceler alemã.
A oposição alemã criticou a chanceler por não retirar todos quantos colaboraram com os alemães de forma atempada, e a Merkel respondeu que acreditava que era possível permanecer no Afeganistão mesmo depois da retirada das tropas norte-americanas.
“A situação no Afeganistão é uma catástrofe, mas não surgiu do nada”, disse Christian Lindner, chefe do Partido Democrático Livre (FDP), que com os Verdes pediu ao Parlamento, em Junho, que iniciasse a evacuação de funcionários alemães e afegãos que podiam vir a estar em perigo.
Merkel não se desculpou e pediu um exame mais profundo acerca dos erros do Ocidente no Afeganistão e quais lições que devem ser aprendidas. Uma tarefa que já não será sua, uma vez que deixa o governo da Alemanha em final do mês de Setembro.
Mas por agora, e no parlamento, ainda afirmou referindo-se à situação no Afeganistão: “Mesmo que este seja um momento amargo, continuo convencida de que nenhuma força ou ideologia pode resistir ao impulso da justiça e da paz”.
Citando os progressos alcançados no Afeganistão desde 2001 [ano do início da intervenção das forças militares estrangeiras no país], a chanceler alemã salientou que “quase 70% dos afegãos têm agora acesso a água potável, quando eram apenas 20% há 20 anos”.
Merkel destacou igualmente que a mortalidade infantil no país diminuiu para metade nas últimas duas décadas.
“Na História, muitas coisas precisam de um longo fôlego”, disse Merkel, que deixará a liderança da Alemanha no outono, acrescentando: “É por isso que não devemos esquecer o Afeganistão e não o esqueceremos”.
A chanceler que a operação de retirada alemã já tirou cerca de 4.600 pessoas de 45 países, “quase metade delas mulheres”, do Afeganistão, incluindo 3.700 afegãos.
Entretanto, a China adiantou que estabeleceu uma “comunicação e consulta abertas e eficazes com os talibãs”, após uma reunião entre representantes do movimento e o embaixador de Pequim em Cabul.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, não deu detalhes sobre a reunião, que ocorreu esta terça-feira, entre o vice-chefe do gabinete político dos talibãs, Abdul Salam Hanafi, e o embaixador Wang Yu, mas partilhou que a China considera Cabul uma “plataforma e canal importantes para ambos os lados discutirem assuntos importantes”.
A China recebeu uma delegação liderada pelo líder dos talibãs, “mullah” Abdul Ghani Baradar, para conversas, no mês passado, antes da chegada do movimento ao poder, e manteve aberta a sua Embaixada em Cabul e não tem planos para uma retirada em massa dos seus cidadãos no Afeganistão.
“Sempre respeitamos a independência soberana e a integridade territorial do Afeganistão, seguimos uma política de não interferência nos assuntos internos do Afeganistão e aderimos a uma política de amizade para com todo o povo afegão”, disse Wang, aos jornalistas, em conferência de imprensa.